Acredito no estado eterno de mudanças.

Gosto de ver as mudanças da vida. Ontem criança, hoje adulto, amanhã idoso. Este espaço é para provocar diálogos que possam ajudar a mudar o meu jeito de olhar. E quem sabe você também entra nessa? Seja bem vindo, comente, critique, o anonimato aqui é bem vindo.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

É proibido criticar, é obrigado propor.


Participando de alguns movimentos pela cidade me deparo sempre com uma questão quando começamos a levantar os problemas: “Não podemos apenas criticar, temos que propor algo.” “A crítica pela crítica cai no vazio, temos que ser propositivos.” Estas frases e outras do tipo parecem como um consenso em diversos movimentos e comecei a pensar. Aliás, este texto aqui é pra pensar, não é uma conclusão.

Imagine que você é um cidadão que trabalha na construção civil, mora no Tony e trabalha no Belvedere. Por dia você gasta em torno de 2 horas para ir e outras 2 horas para voltar do trabalho. Você percebe que há algo errado nisso, há oito anos atrás você fazia o mesmo percurso em 1 hora, porque dobrou? Também há oito anos o preço da passagem era 1,65, agora é 2,65. Inconformado com a situação você reclama e ao seu lado o amigo retruca: “cara você só sabe reclamar!” Ou ainda, quando você tece um comentário do tipo: “essas obras da prefeitura não vão resolver nada e ainda atrapalham a nossa vida.” A resposta vem pronta: “uai, agora você é engenheiro? Já sabe que não vai resolver?” Ou ainda: “falou espertão, agora ensina aos engenheiros a fazer melhor.”

Nas redes sociais não é diferente, basta apresentar uma crítica que já vem alguém apontando: “este pessoal da esquerda só sabe criticar, fazer algo que é bom nada!” Ou ainda: “falar é fácil quero ver ir lá e fazer diferente.” Ou como prefere o nosso excelentíssimo Prefeito: “quem não está satisfeito que se candidate nas próximas eleições.” E a maioria nem para pra pensar um pouco nas críticas, quer mesmo é soluções, parece uma reação fruto da ansiedade generalizada que ronda o mundo: não quero saber dos problemas ou, já sei os problemas, quero ver as soluções.

Pois de tanto me apontarem assim acabei aprendendo sobre mobilidade urbana, gentrificação, privatização do espaço público, gestão de saúde e educação, parcerias público privadas, programas sociais assistencialistas e estruturantes, funcionalismo público, gestão da cultura, UMEI, APA, REIV, EIV, COMPUR, SUS, OP, UPA, BRT, PBH e um outro tanto de termos e siglas.

Só que há um detalhe, a complexidade de tudo isso impede um conhecimento mais profundo, é exatamente por isso que existem especialistas em cada área. Não é possível saber tudo sobre tudo. Óbvio. Mas e aquele cidadão que não sabe nada sobre nada, que só sente na pele, como ele pode criticar sem saber apontar soluções? Pela teoria de uma parte da população ele simplesmente não pode criticar, tem que agüentar calado.

Pensando sobre esta situação mudei de postura. Agora minhas críticas serão apenas críticas e me abstenho de propor algo. Sou um simples cidadão que sente a cidade na pele e não tenho conhecimento técnico suficiente para dizer como dever ser gerido o transporte público, mais sei que da forma como está não está certo. Também não entendo de engenharia, mas percebo que asfaltar uma via e 6 meses depois retirar todo o asfalto para colocar concreto é falta de planejamento e desperdício de dinheiro público. Não sei como gerir e manter uma escola ou um posto de saúde, mas sei que garantir 30% para as empresas terceirizadas que irão fazer esta tarefa não garante a qualidade do serviço prestado à população. Também sei que uma empreiteira começar a construir um hospital e depois abandonar a obra decretando falência, não é legal. Pior ainda quando se sabe que a mesma empreiteira foi uma das financiadoras da campanha do prefeito.

Eu não sei de nada, desconfio de muita coisa e não abro mão do meu direito de reclamar, de protestar, de apontar. Quem sabe estes apontamentos não ajudam os técnicos e especialistas a verem onde está o erro?