Acredito no estado eterno de mudanças.

Gosto de ver as mudanças da vida. Ontem criança, hoje adulto, amanhã idoso. Este espaço é para provocar diálogos que possam ajudar a mudar o meu jeito de olhar. E quem sabe você também entra nessa? Seja bem vindo, comente, critique, o anonimato aqui é bem vindo.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Obrigado Jovens!

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Eu tenho 39 anos, sempre gostei de multidões e política. Já perdi a conta das mobilizações, comícios, passeatas, atos e marchas que participei. Mas nunca tive que defender minha ideologia com tanta força como hoje. Nunca imaginei que aqui em BH a esquerda seria hostilizada e demonizada como vi hoje. Nunca imaginei que iria retroceder no tempo e ter que defender liberdade! Achava que conquistas não retrocedem. Engano, vocês me mostraram diferente.

Em 1984, havia um ano que eu morava em BH na Caetés com Guarani. Num dia, que não me lembro  ao certo, um grupo de primas, primos e amigos se reuniu em minha casa para ir a uma manifestação. Era as Diretas Já, um comício, acho que chamavam assim, depois de insistir com a minha mãe e com o apoio dos primos mais velhos, fui.

Dizem que reuniu mais de 100 mil pessoas, lembro que o clima era de festa, todo mundo parado escutando diversos políticos discursarem, muitas bandeiras de diversos partidos. Andamos pela multidão até achar um local tranqüilo pra ficar. Nem prestei atenção em quem falava, curti estar no meio da multidão e ficava sacando tudo. Meus irmãos cuidavam de mim com muita atenção, acho que ficaram tensos com a minha presença. Minhas primas eram muito engraçadas, usavam umas roupas coloridas, estrelas vermelhas e trocávamos muitas idéias sobre política. Foi assim que aprendi o que é direita, esquerda, comunismo, socialismo, fascismo, liberalismo e democracia.

Em 92 participei do Fora Collor. Destas, que foram várias marchas, guardo recordações incríveis. Parávamos até escola particular, tudo articulado entre os grêmios. No municipal, negociávamos com os professores e eles nos liberavam no terceiro horário, já valia dia letivo. Depois saíamos passando nos colégios e chamando a galera. O grêmio que já estava avisado, negociava com a diretoria e o segundo grau descia. Seguíamos para a praça Afonso Arinos e fazíamos atos com falas diversas. A Kombi de som era emprestada de um sindicato e o material gráfico era doação de outro. As marchas foram crescendo até que um dia começaram a aparecer na TV. Já tinha quatro meses que manifestávamos e as redes de televisão não passavam nada, ou diziam ser por motivos outros.

Depois disso participei de manifestações contra as privatização, greves dos professores, Grito dos Excluídos, Encontro dos Movimentos Sociais, Fora Lacerda e das Marchas, Mundial das Mulheres, das Vadias, LGBT e da maconha. Em todas estas manifestações nunca tive que defender uma postura de esquerda. Todos que estavam nelas são de esquerda. Ah, e não posso deixar de citar as marchas de luta por moradia e em defesa das ocupações em BH. Estamos juntos e misturados!

Mas de uma manifestação para outra a coisa muda e de repente carregar uma bandeira de partido é ser chamado de oportunista. Levar uma bandeira vermelha tornou-se motivo para correr risco de ser agredido. Uma horda de bárbaros agindo orquestradamente começa vaiando, depois mandando abaixar e em seguida agredindo. Uma tropa de frente cuida do contato físico, enquanto na retaguarda uma tropa de play boys incita a juventude a gritar: sem partido! Sem partido!

Meu irmão eu lhe digo: o baque é louco! Hoje por diversas vezes dialoguei com os jovens e tentei explicar o que são aqueles partidos que levam bandeiras. Aqueles partidos que ainda tem bandeiras. Aqueles partidos que sempre denunciaram a máfia do transporte público e os aumentos abusivos. Aqueles partidos que não recebem financiamento de empresas de ônibus. Mas a inocência cega segue o líder sem questionar e não escuta estranhos, ou melhor, acompanha estranhos só no facebook.

Jovens não irei lhes explicar o que é ser de esquerda, ou o que são aqueles partidos, ou sobre o que lutamos juntos. Não quero pagar de professor, nem de pai. Porque mesmo que você não saiba, por ter ido as ruas hoje você é esquerda! Na nossa direita estão os donos das empresas de ônibus. Sacou? Ah, e um pouco além da esquerda estão os anarquistas, eles fazem black blocks, ações pacifistas, procure conhecer, eles são jovens como você.

Meus irmãos, você aí que passou dos trinta e entende do que falo, saia de casa neste sábado, vamos nos encontrar na praça sete às 10h da manhã, vá de vermelho pela luta internacional. Vamos levar nossas bandeiras de todas as cores, as roxo e rosas dos movimentos das mulheres, as laranjas das lutas contra o prefeito e as amarelas do Copac. E vamos fazer uma grande corrente democrática. Fascistas não passarão!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Eu levo uma bandeira que abraça a sua causa, mesmo que você não saiba.




A marcha que aconteceu no último sábado 15/06 em BH foi sensacional. Apesar da ansiedade juvenil de puxa-la antes de ter 30 min. de concentração, mesmo com toda euforia de jovens lideres que saíram correndo com a marcha deixando os companheiros na resistência sozinhos. Mesmo com a falta de noção de alguns que confundem patriotismo com cidadania. Não galera, não dá pra cantar o hino nacional enquanto Dilma manda forças policiais para Belo Monte ou quando o BNDES já liberou mais de 75 bilhões para as obras da Copa.

A espontaneidade, a união de diversos movimentos, os gritos de guerra, e a chegada a praça da estação, foram maiores que qualquer problema. Menos um, que ao meu ver é grave e revela uma grande falta de politização dos nosso jovens*(uma correção importante). Entendo que a mídia e que os grandes partidos trabalhem esta alienação política, mas ver jovens embarcando nelas é triste.

A primeira vez que vi o pedido de não levar bandeiras em uma manifestação foi na marcha contra a corrupção em 07 de setembro de 2011. No dia, alguns companheiros do Fora Lacerda, que participaram do Grito dos Excluídos pela manhã, foram a tarde a marcha contra a corrupção. E que susto! Quando chegamos alguns militantes do PSTU estavam sendo agredidos por jovens raivosos que queriam queimar suas bandeiras. Intervimos e a turma "do deixa disso" conseguiu apartar os agressores, o pessoal do PSTU saiu da manifestação e ficou olhando de longe. O que estava acontecendo ali? Na sequência, um membro do Fora Lacerda tentou usar um megafone para informar a próxima marcha do movimento. Foi impedido por uma senhora que acusava o movimento de ser partidário. Tentamos explicar e ela tampou os ouvidos e saiu. Logo em seguida alguns anonymous, até hoje queremos saber quem eram para agradecer, nos entregaram um megafone e nos rodearam para escutar. Mas a mesma senhora voltou, agora aos berros, dizendo que estávamos fumando maconha ali! Putz! Sem comentários, demos o nosso recado e partimos. Na saída um panfleto com capas de Veja do governo Lula em papel de alta qualidade produzido pelo movimento RPJ – Reforma Política Já. Para deixar claro, eu quero reforma política no Brasil, mas não é a mesma reforma destes caras, que pretendem reforçar currais eleitorais e deixar a democracia mais distante do povo.

Quando cheguei em casa, muito encucado, fui pesquisar sobre o RPJ, sobre a marcha contra a corrupção e sobre alguns sujeitos que vi por lá. Batata! Eram ativistas das redes sociais, trabalhavam para o PSDB. São citados em diversos blogs e matérias sobre ativismo na rede, em especial na perseguição aos ministros Dilma. Quando confrontados nas redes, eles diziam, somos apartidários, não somos filiados ao PSDB. Ah sim, mas admitiam fazer ações na internet para o PSDB! Só ai entendi porque não podia levar bandeiras ou denunciar a corrupção do Governo Estadual e Municipal. Quem tem coragem de carregar uma bandeira do PSDB? Quem ainda sai as ruas com uma bandeira do PMDB? Será que existe bandeira do DEM?

Por outro lado, os partidos realmente de esquerda, PSOL, PCB e PSTU estão envolvidos em várias lutas que todos nos apoiamos. As bandeiras que foram vaiadas ontem – que vergonha alheia! – são as mesmas que estavam nas greves dos professores, em defesa de melhor educação pública! São as mesmas bandeiras que estavam nas manifestações dos profissionais de saúde, em defesa do SUS! São as mesmas bandeiras que vão dar apoio as ocupações da cidade! São as mesmas bandeiras que vão a Marcha Mundial das Mulheres, a Marcha das Vadias e a Parada do Orgulho Gay! São as mesmas bandeiras que ajudam a construir diversos movimentos de engajamento popular! São as mesmas bandeiras que denunciam insistentemente o controle da economia sobre a política! São as mesmas bandeiras que em toda eleição denunciam o sistema corrupto, os desequilíbrios do sistema democrático e uma diversidade de assuntos que os partidos que estão no poder não querem falar. Engraçado é que se marcha contra a corrupção, mas não se marcha contra o financiamento privado de campanhas.

Então meus amigos, que ontem vaiaram as bandeiras dos partidos, pensem um pouco, tenham senso crítico! Onde estes partidos podem conseguir alguma visibilidade? Nos 30 segundos que tem na TV? Nas “matérias” que as grandes mídias fazem sobre eles? Em comerciais pagos por grandes empreiteiras? Em redes de blogueiros e ativistas pagos? E qual o problema dos partidos conseguirem alguma visibilidade nos atos que eles ajudam a construir cotidianamente? Visibilidade esta que para a grande mídia é a de baderneiros!

Para concluir, entendo que vivemos a decadência do modelo partidário. Entendo que é difícil para muita gente entender as diferenças entre os partidos. Entendo a decepção com a esquerda. Entendo o não querer. Mas não admito que reprimam o direito de livre manifestação e de carregar com orgulho a bandeira do partido que escolhi ajudar a construir. Uma escolha que me foi penosa, que demorou mais de 4 anos de pesquisa e muitas manifestações. Uma escolha que antes de me dar orgulho me dá um trabalho enorme. E disso eu não abro mão! Aproveito para lhes convidar a conhecer o PSOL. Antes de nos vaiar, tenha pelo menos motivos para tal. Porque uma bandeira não pode ser a base do seu entendimento partidário. Envolva-se com a política, mergulhe fundo! Acredite e tenha coragem!

*O Tio aqui as vezes perde a mão, generaliza de forma medonha, até parecer um reaça. É que erro também. Foi mal galera firmeza que faz a diferença, mas acho que vocês sacam da geral que falo!