Acredito no estado eterno de mudanças.

Gosto de ver as mudanças da vida. Ontem criança, hoje adulto, amanhã idoso. Este espaço é para provocar diálogos que possam ajudar a mudar o meu jeito de olhar. E quem sabe você também entra nessa? Seja bem vindo, comente, critique, o anonimato aqui é bem vindo.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

REDE DE APOIO E SOLIDARIEDADE ABRAÇA A COMUNIDADE DANDARA

Acabei de receber este email e me sinto na obrigação de compartilhar com mais gente. Tenho orgulho de ter participado da mobilização no último domingo, dia 16/10. Outras virão e é muito importante que mais gente se una a luta. Amigos que foram pela primeira vez a Dandara se impressionaram com a organização e estrutura do lugar. Uma frase recorrente: "chorei de emoção."
Fotos aqui.

“A gente tem muita fé e coragem. A gente não está só. Quanto mais eles nos ignoram, mais aparece gente para nos apoiar.”
Maria do Rosário de Oliveira Carneiro[1]

Desde que a Comunidade Dandara, no bairro Céu Azul, em Belo Horizonte, MG, recebeu a notícia de que seria expedido o mandado de despejo no processo de reintegração de posse que tramita na 20ª vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, tem sido impressionante o grande número de manifestações de apoio e solidariedade à Comunidade no sentido de discordância com a decisão judicial e com a forma como o poder público do Estado de Minas tem tratado as 1.000 famílias que há 2,6 anos vivem na Dandara.
Pela internet estão sendo realizadas diversas campanhas de apoio a Dandara, inclusive internacional. De diversos cantos de mundo, grupos e pessoas têm encaminhado à Comunidade Dandara recados de apoio à Comunidade e contrários ao despejo. Na comunidade tem sido grande o número de visitantes, diariamente, presentes e apoiando as famílias. Um grupo de jovens apoiadores, inclusive, desde que soube da notícia do despejo, veio acampar e morar com as famílias de Dandara.
No último final de semana, 12 de outubro, dia das crianças, durante todo o dia, houve festa na Comunidade, com a presença de dezenas de apoiadores que, de muitas maneiras, contribuíram e se solidarizaram com as crianças que são centenas. Foi um dia de muita festa e de muito gesto solidário. “Aqui na Dandara, somos felizes. Brincamos, vamos à escola, participamos da comunidade e lutamos. Estamos aprendendo a lutar também com os sem terrinhas do MST”, dizem muitas crianças dandarenses.
Ontem, dia 16 de outubro, centenas de pessoas de diversos cantos de Minas Gerais, do Brasil e do mundo, vieram abraçar a Comunidade Dandara. O dia começou animado, pela manhã com as famílias dandarenses enfeitando a comunidade e preparando para receber as visitas. Foi uma verdadeira primavera de solidariedade.
Às 13:00h, as pessoas foram chegando, trazendo faixas de apoio e muito calor humano. Foram diversas entidades, movimentos sociais e populares, religiosos/as, faculdades e universidades, sindicatos, professores, padres, igrejas diversas, estudantes, comunidades vizinhas, artistas e famílias. Também se fizeram presentes diversas instituições através de telefonemas e emails, justificando a ausência física, mas afirmando o apoio à luta das famílias.
A Comunidade Dandara, com bandeiras vermelhas asteadas sobre todas as casas, sinalizava a resistência, o sangue aguerrido de sua gente que insiste em dizer que sua luta é justa, legítima, urgente e necessária. Insiste ainda em dizer, sobretudo, que não pode sair de Dandara porque não tem para onde ir, porque o lugar, chamado Dandara é uma conquista, tem sido libertação, tornou-se um projeto de vida para milhares de pessoas, sobretudo para centenas crianças. O sonho de Dandara não pode ser abortado! Após a morte de duas crianças na Dandara – Beatriz e Estefânia -, que morreram carbonizadas em um barraco de 4 metros quadrados, volta e meia o arco-íris vem visitar a Comunidade acordando em todos a certeza de que o Deus da vida vibra de alegria com a luta de Dandara.
Com músicas, falas dos apoiadores e muita animação, o grande abraço aconteceu, inclusive com Ato Ecumênico para pedir a bênção divina e a sua proteção. Quinhentas crianças do MST, os sem terrinha, marcaram presença. Recitaram poesia para Dandara, cantaram músicas e deram gritos de luta, solidários com as crianças e as famílias de Dandara. “Mexeu com Dandara, mexeu com os sem terrinhas e com o MST”, gritavam todos. Uma onda de energia revolucionária contagiava a todos.
De maneira organizada e em marcha, nove moradores de Dandara, cada um com uma grande bandeira vermelha, foi seguindo para um determinado ponto, dentro da comunidade, acompanhados de centenas de apoiadores e moradores. Em seguida, ao som de foguetes, com gritos e hinos, o povo foi se espalhando, dando as mãos e abraçando a Comunidade Dandara. Um helicóptero de amigos parceiros sobrevoou a comunidade durante o ABRAÇO A DANDARA e registrou a beleza profética e política do que estava acontecendo.
A comunidade Dandara possui um território de 330 mil metros quadrados (= 33 hectares). Entorno de toda a comunidade estavam cerca de 3 mil pessoas de mãos dadas, simbolicamente e concretamente, dizendo para as autoridades que não concordam com a decisão que decretou o despejo das 1.000 famílias de Dandara e que esta decisão não pode ser cumprida.
Este abraço veio confirmar a força que tem o povo de Dandara. Força visível na luta de cada dia, na organização interna, na convicção de seus direitos e no imenso apoio que a comunidade tem da sociedade. Apoio em Belo Horizonte, em Minas Gerais, no Brasil e no mundo. Tem razão quando diz Dona Maria, moradora de Dandara. “A gente tem muita fé e coragem. A gente não está só. Quanto mais eles nos ignoram, mais aparece gente para nos apoiar”.
Parabéns, comunidade Dandara! Vocês estão construindo história verdadeira, construindo outro mundo possível, com ternura e resistência. Belo Horizonte, 17 de outubro de 2011.

[1] Advogada popular. Integrante da Rede de Apoio e Solidariedade da Comunidade Dandara.

Fotos aqui:

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Um relato da Itália

Recebi este relato por e-mail e me senti na obrigação de compartilha-lo. É importante perceber como as coisas tem mudado e como podemos fazer parte dessa mudança. Só a mobilização social é capaz de reverter o quadro de corrupção e ingerência dos nossos governantes.
Ei você ai parado, também é explorado!

"Aos amig@s brasileir@s,

o que aconteceu nos últimos meses na Italia foi realmente extraordinario!

Há alguns anos o nosso governo super corrupto de Berlusconi fez uma lei para privatizar todos os serviços hídricos, de transporte publico local e de gestão do lixo. Essa lei continua o percurso que os governos de direita levam para a frente há muito anos, querendo privatizar os serviços públicos.

Então o ano passado, em cada cidade começou uma mobilização popular e recolhemos assinaturas para pedir um referendum (plebiscito popular) contra essa lei e contra a mercantilização da agua. Em 3 meses recolhemos mais de 1.400.000 assinaturas, o numero mais alto na historia da Itália, e finalmente 12 e 13 de junho 2011 o povo todo foi chamado a votar para decidir sobre privatização da agua, sobre energia nuclear, e sobre privilegio do chefe de governo e ministros em poder não ser chamados nas aulas de tribunal para julgamentos.

Toda essa luta foi levada a frente por conta dos movimentos sociais, dos sindicatos, dos voluntários da sociedade civil, o Fórum dos movimentos pela agua cresceu muito e jà tem comité de agua em cada cidade da Itália. Os partidos políticos nos obstaculavam ou gozavam de nos. Até o maior partido da “esquerda” italiana (que já levou para a frente a privatização nos anos passado) não ajudou, mas sò falava contra de nos.

A mídia, escrava do poder, nunca falava dos assuntos, tivemos que não se organizar e fazer nossa campanha de informação através de internet, nas ruas, nos povoados, com encontros, eventos, teatro, foi um esforço imenso, mas que nos fez encontrar as pessoas de uma maneira direta, pessoal. Os voluntários cresciam de numero, no ultimo mês a mobilização crescia e cada um fazia sua parte para repassar as informações.

Vocês tem que saber que aqui na Itália o referendum tem validade somente se vai votar mais de 50% da população e que aqui na Itália votar não é obrigação. Nos últimos 16 anos nenhum referendum tinha conseguido chegar a ser valido, também porque a pululação esta muito enjoada da politica e muitas pessoas não votam mais.

Mas vamos voltar a o que aconteceu no ultimo mês, porque para nos isso tem o sabor de um milagre. A sociedade civil, que parecia adormecida, começou a se mobilizar cada dia mais, em favor da agua publica, contra a energia nuclear e para una justiça igual para todos.

Se mobilizaram os jovens que usam internet, todos se unimos, pessoas de diferentes ideas politicas, de todos os lados e experiencias, unidos, porque a agua não tem color, a agua é vida para todos.

Um mês antes das votações começou se perceber que o consenso popular estava crescendo e alguns partidos mudaram suas falações, e começaram apoiar a luta. Essa mudança foi mais uma vez o tentativo da mala politica de se apropriar de uma luta que estava se prospectando vitoriosa.

Mesmo assim nos estávamos com medo de não conseguir chegar a 50%, porque como já disse, a mídia e o governo estavam todos contra nos, fazendo um escandaloso boicote da informação e convidando o povo para não ir votar.

Mas chegou o dia que vai entrar na historia do nosso país. Dia 13 e 14 de junho a população começou encher as urnas já de manha cedo, jovens e velhinhos, famílias, até doentes e estudantes de outras cidades que pediam para votar, maior parte da igreja apoiou a luta, missionários fizeram vigília de oração, papa Bendito falou contra energia nuclear, os artistas faziam shows gratuitos para mobilizar, os bares prometiam bebidas para quem ia fazer seu dever de votar, cada um inventava uma coisa para convencer os outros.

E afinal vencemos: 57% dos italianos foram as urnas , 95% deles votou para cancelar as leis injustas do governo. A noite as praças se encheram de pessoas fazendo festa, pela primeira vez cheias de jovens animados, sorrisos, abraços, a sensação que as coisas a partir de hoje vão mudar para melhor.

Foi maravilhoso descobrir que não precisamos mais da mídia tradicional, a liberdade de internet substituiu a escravidão da televisão, foi maravilhoso descobrir que os jovens não estão todos anestesiados e desinteressados, o enjôo não é devido à politica, mas aos políticos! Quando a politica é feita pelo povo, falando de assuntos concretos como agua, saúde, segurança, o povo entende e se mobiliza.

Tem um vento novo soprando na Itália, um ar limpo e fresco como uma cachoeira de agua transparente.

Nestes anos ganhamos força com as lutas vitoriosas de alguns povos da América Latina, hoje estamos felizes de oferecer nossa vitoria a todos os povos que ainda lutam pelo direito à agua. A agua é nossa mãe, nessa irmandade avançamos juntos para um mundo melhor.

Abraços

Silvia Parodi - comité “Agua Publica” de Genova – Italia."

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Movimentos sociais ocupam prédio do IPSEMG.

Na manhã da segunda-feira, 02 de maio, militantes de diversos movimentos sociais, liderados pelas Brigadas Populares e com a participação do Comitê Popular dos Atingidos Pela Copa 2014, ocuparam o prédio do IPSEMG na Praça da Liberdade.


A ação foi construída para denunciar os desmandos do Governo Estadual e divulgar a licitação fraudulenta realizada recentemente e atualmente investigada pelo Ministério Público. Na licitação, que só teve um concorrente, a rede de hotéis fasano conquistou o direito de explorar o prédio por 35 anos pagando 15 mil reais mensais. O prédio ainda tem alguns funcionários trabalhando, mas a grande maioria já foi transferida para a cidade administrativa.

Com a licitação, o prédio que é público e faz parte do conjunto arquitetônico da Praça da Liberdade, será transformado em um hotel de altíssimo luxo, administrado pela iniciativa privada, lesando o povo em prol de particulares. Por isso é importante que a comunidade se mobilize e não admita tal arbitrariedade. O Ministério Público esta estudando o caso e avaliando as irregularidades da licitação. Nessa hora é importante a pressão popular! Estas informações saíram precariamente na mídia e logo foram abafadas. O Senador Aécio é amigo íntimo dos Fasano e segundo indícios, trabalhou para manipular a licitação.

Esta ação é apenas o início do que vem por ai. A Comunidade Camillo Torres está em ameaça de despejo em uma ação de reintegração de uma posse, que nunca existiu. A articulação entre o judiciário e o executivo impediu qualquer tentativa de se manter a ocupação, que é legítima e organizada em terreno público que não era usado. Misteriosamente este terreno passou a ser de posse da Victor Pneus, empresa que nunca utilizou a área.

As Comunidades Dandara e Irmã Doroty também estão em situação semelhante. Além da Mata dos Wernek, da Mata do Planalto e outros prédios público que podem do dia para a noite serem passados para a iniciativa privada. Não podemos ficar de braços cruzados enquanto o patrimônio público, que é de todos nós, é doado para os amigos dos governantes. E todas as ações são justificadas como obras para a Copa 2014. Aproveitando a paixão do Brasileiro pelo futebol nossos governantes roubam os bens públicos!

Funcionários terceirizados chegaram a tentar impedir a ação, pois estavam preocupados em realizar a mudança para a cidade administrativa. Depois de acalmá-los e garantir que o movimento não interferiria em suas atividades normais, restaram apenas caras feias, de quem vive à custa de favores no emprego público.

Funcionários Públicos concursados, soldados, cabos e sargentos da Polícia Militar foram solidários com os manifestantes ao saberem da legítima reivindicação. Todos foram unânimes ao reclamar da ingerência do Governo Estadual. A ocupação e a desocupação aconteceram de forma ordeira e não causou nenhum dano ao patrimônio público. Agradecemos a compreensão e apoio que recebemos de diferentes cidadãos que durante a manifestação também demonstraram a sua indignação.
Deputados do Bloco Minas sem Censura apresentaram sua solidariedade a manifestação.
Eles também estão pressionando o Ministério Público para investigar a licitação.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quanto vale o seu trabalho?

Esta pergunta tem resposta simples para a maioria das pessoas. Basta pegar o valor que recebe no final do mês, dividir pelas horas trabalhadas e terão a resposta. Para alguns profissionais a resposta já está na ponta da língua e são contratados por horas, ou por consultas, com valores definidos e claros.

Um grupo de profissionais sofre com esta pergunta. Sem sindicato forte, sem representatividade ou histórico de mobilização, algumas classes são reféns destes valores. Aliado a estas questões está à subjetividade de alguns trabalhos, que podem demorar horas ou minutos para serem feitos. Os profissionais que trabalham com fotografia, tratamento de imagem, edição, criação de textos, produção de moda, maquiagem e várias outras atividades, sofrem com esta pergunta: quanto vale o seu trabalho?

Sem um sindicato, sem uma união entre os profissionais e sem uma tabela de custos, os preços variam ao léu e muitas vezes de acordo com o relacionamento entre contratante e contratado. Sem regras e sem medidas certas os dois lados ficam sem ter como avaliar o custo. E ai a coisa começa a ficar perversa. O contratante tem argumentos fortes para diminuir o valor do trabalho alheio: outro pode fazer por menos, o mercado está apertado, faz um desconto hoje e amanhã te contrato de novo, somos amigos, se me fizer um preço camarada te indico para outros serviços. A enxurrada de argumentos para justificar um preço baixo daria para encher uma página.

Os profissionais se vêm em um beco sem saída: ou fazem um trabalho pelo custo menor e esperam outros resultados, ou ficam sem trabalhar. Ficar sem trabalhar é muito complicado e a maioria acaba aceitando qualquer valor. Ou até valor algum. Quando o contratante é uma grande empresa ou um profissional já reconhecido, ele tem um argumento mais forte ainda: olha, seu nome vai aparecer junto ao nosso – do sujeito ou da empresa – isso vai lhe abrir muitas portas e lhe render muitos trabalhos. Com este argumento o contratante pede o trabalho de graça. Às vezes nem é para o sujeito, mas para a empresa que ele trabalha. Assim, temos em BH revistas, jornais, agências de publicidade, entre outros, que não remuneram alguns profissionais que contratam temporariamente. E o pior, gente que trabalha de graça e acha que está no lucro.

A questão é tão ampla que abrange pessoalidades, às vezes questões de auto-estima. Preciso mostrar o meu trabalho! Preciso ser visto! Preciso ser reconhecido! E assim, no desespero ou na falta de outra saída, o sujeito trabalha de graça. E aquele trabalho que viria depois que o nome dele aparecesse junto com o grande nome ou a grande empresa, nunca acontece. Ou pior, nem o nome dele aparece, esqueceram.

Neste ponto acho que muitos já se reconheceram, já lembraram de algumas vezes que trabalharam por pouco, ou por um pagamento imaginário que nunca ocorreu. Então, meu amigo, é hora de acordar. Vamos fazer um acordo de ética e dignidade com nós mesmos, com a nossa profissão e com o mercado que fazemos parte! Da próxima vez que aquela revista ou aquela agência de publicidade lhe pedir uma foto, um texto, ou uma maquiagem de graça, seja gentil e explique: olha, de graça não posso. É contra a minha dignidade e desrespeita a profissão que abracei com carinho.

Vamos trocar mais idéias sobre o assunto? Repasse este texto, comente com os amigos e use os comentários aqui – pode ser anônimo – acredito que abrir esta discussão é saudável para todos nós, profissionais autônomos, não sindicalizados e que atendemos as demandas de comunicação e imagem de grande parte da sociedade. O processo é lento, mas é durante que as coisas se descobrem.