Acredito no estado eterno de mudanças.

Gosto de ver as mudanças da vida. Ontem criança, hoje adulto, amanhã idoso. Este espaço é para provocar diálogos que possam ajudar a mudar o meu jeito de olhar. E quem sabe você também entra nessa? Seja bem vindo, comente, critique, o anonimato aqui é bem vindo.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Cada um sabe aonde o sapato aperta.

Acabei de ler um texto do Danilo Gentili sobre racismo. Acho que ele postou uma piada sobre cores, negros e bichos no twitter e deu pano pra manga. Racismo e discriminação rendem assunto sem fim. Tem gente que insiste numas idéias bobas, tanto os politicamente corretos, como os escrachados esquecem um ponto. O que é ser discriminado?

Não sou negro, sou pardo o suficiente para ser considerado branco. Uma vez na vida senti o que é ser discriminado. Vestido de mendigo entrei em um shopping aqui em BH. O Diamond Mall é o centro de compras do bairro de Lourdes, o mais refinado de BH.

Eu vi mães segurando os filhos com força e puxando-os para junto do corpo, eu vi pessoas desviando, eu vi um piano bar inteiro parar diante da minha presença, eu vi um grupo de seguranças se organizando e me seguindo de longe. Eu vi tantos olhares de censura que comecei a passar mal. Senti um nó na goela, uma dor no peito, uma vontade de chorar. Sentei na praça de alimentação e a equipe de apoio veio em meu socorro. Éramos cinco universitários e ninguém sabia o que fazer. Eu não conseguia falar, meu coração batia descontrolado, pensei que ia morrer e a tentativa de fazer um vídeo para a faculdade foi pro espaço.

Saí do lugar cambaleando como se estivesse bêbado e não era encenação. Não sei explicar o que eu sentia e muito menos porque meu corpo respondia daquele jeito. Lá fora, sentado no meio fio, encontramos um mendigo de verdade e perguntamos por que ele não entrava no shopping:
-Lá só pode entrar de calça e só tenho esta bermuda.

Entendi o tanto que ele não queria se misturar com aquela gente e o melhor era manter distancia. Falar que negro descrimina negro, que negros vendiam negros e mais um tanto de lugares comuns é pouco perto de uma questão que está no sangue, na cara e na vida de muitos. Só quem sente na pele pode dizer o tanto que é importante a Lei Afonso Arinos e a diferença que faz ser chamado de preto, negro ou zulu.

A família Sarney

Muito legal o texto que a Miriam Leitão escreveu sobre a família Sarney.
Se eu fosse um integrante do CQC iria lá no Maranhão entrevistar a Maria Beatriz Sarney. Já imaginaram uma pergunta do tipo: e aí Maria o seu namorando conseguiu o emprego? Ou então: Maria namora comigo? É que estou precisando de um emprego??
O texto da Miriam está aqui.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Como fazer uma manifestação política.

Recebi recentemente vários emails convocando para uma grande manifestação dia 7 de setembro as 17 horas.
Quanta inocência, quanta indignação mal direcionada, quanta bobagem. Lembrando de minha atuação no movimento estudantil resolvi escrever 10 metas para esclarecer como promover uma mobilização política. Dou-lhes de graça informações valiosas, não que eu seja bonzinho, é pura arrogância de quem acredita que pode mudar alguma coisa.

1º- Jamais convoque uma passeata ou qualquer movimento para um feriado. Cidadania se exerce em dia útil, feriado é para descansar. Não seja ingênuo, ninguém vai largar um churrasquinho para ir às ruas bater panelas.

2º- Se quer fazer um movimento político realmente consistente procure instituições que lhe apoiem; movimento estudantil, sindicatos, movimento sociais, Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, ONGs, etc...

3º- Não divulgue seu movimento em emails ou cartas anônimas, mostre sua cara. Se não tem coragem para isso, nem comece.

4º- Não crie um movimento com nomes tipo: cansei, basta, chega! Isso mostra total falta de conteúdo, é barulho por nada. Sem falar que é pouco objetivo e covarde. Basta por quê? Cansou de quê? Ninguém é trouxa de apoiar uma causa sem saber os detalhes.

5º- Se quer juntar gente nas ruas marque o início da passeata para as 14h. A concentração deve durar até as 18h e depois seguir o seu itinerário. Nesta hora tem mais gente na rua e é possível conseguir apoio de quem está alheio ao movimento.

6º- Não coloque políticos dúbios, ou celebridades a frente da sua luta. O povo precisa se reconhecer para se envolver com a questão.

7º- Material importante: carro de som, faixas, panfletos e informações de apoio na net. Release para ser distribuído a todos os meios de comunicação do local.

8º- Avise a polícia, negocie o tempo de duração e o percurso. Aceite as condições da polícia, com a manifestação na rua eles terão que ceder às suas.

9º- Não conte com os seus amigos para fazer volume, você precisa alcançar gente que realmente queira participar. Lembra das instituições de apoio?

10º- Convide artistas amadores ou desconhecidos para animarem a passeata. Crie paródias com as músicas do momento. Nas primeiras 4 horas de movimento deve haver agitação intensa, slogans para serem gritados por todos, discursos e músicas interessantes.

Aprendi isso aos 17 anos e foi assim que ajudei a organizar algumas manifestações do Impeachment do Collor. E se você vier me dizer que fomos manipulados pela Globo, eu terei que lembrá-lo que a Globo foi a última emissora a documentar as passeatas. Por mais que você não acredite a rede de informação e sustentação da UNE foi a grande responsável pela derrubada do Collor. Ah, é claro que algum partido controlava a UNE nesta época.

Crise no Senado!

Todo dia leio uma novidade sobre a crise no senado. Outro dia vi que o Sarney revogou todos os atos secretos e continuamos sem saber o que eram estes segredos.

Agora está todo mundo reclamando que o Lula chamou os senadores de pizzaiolos. Não farei a piadinha a la CQC: coitado dos pizzaiolos. Gostei da provocação do Lula, quero ver quem tem vergonha na cara e vai fazer alguma coisa. Por enquanto só discursos indignados. Até gostei da fala do Cristóvão Buarque, mas não passa de conversa fiada.

Concordei também com o apoio que o Lula prestou ao Sarney e por isso fui crucificado por meus amigos.

Queridos, vamos entender uma coisa, isso é política e a crise do senado nada mais é do que uma tentativa do PSDB de enfraquecer o PMDB para as próximas eleições. Com o PMDB fraco o PT fica mais fraco ainda e terá uma enorme dificuldade para eleger a Dilma. Aliás, acredito que ela seja um boi de piranha, candidato apresentado antes para ser apedrejado pela oposição e na convenção do partido acabarão escolhendo outro nome. Patrus já disse que não, dizem que tem pouco apelo nacional, mas não duvido de nada.

A crise do senado vai no máximo reduzir em 20% os gastos de nossos senadores e cairá no esquecimento. A família Sarney sofre golpes por outro motivo, as investigações da Polícia Federal que chegaram até eles.

Quem abriu concurso aumentando o quadro de agentes, equipou e pediu a abertura de várias investigações foi o Presidente Lula. Se procurarem as primeiras ações dele no primeiro mandato constatarão este reforço que a PF ganhou.

É graças a PF e não ao senado ou à câmara dos deputados que as coisas podem mudar e muitos serem indiciados e obrigados a devolverem alguma quantia. Presos não acredito, afinal são homens acima da lei e não foi o presidente quem disse isso, está na constituição com o nome de imunidade parlamentar.

Este texto longo e cheio de retalhos é para chegar a este ponto: não adianta fazerem manifestações na net. Não adianta convocar passeatas e registrar sua indignação. Vote melhor na próxima eleição.