Acredito no estado eterno de mudanças.

Gosto de ver as mudanças da vida. Ontem criança, hoje adulto, amanhã idoso. Este espaço é para provocar diálogos que possam ajudar a mudar o meu jeito de olhar. E quem sabe você também entra nessa? Seja bem vindo, comente, critique, o anonimato aqui é bem vindo.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Obrigado Vadias!

Volta e meia uma sensação toma conta de mim e me faz pensar: só daqui uns 20 anos entenderemos o que é isso, o tamanho disso e o que vai virar. É Praia, é Fora, é Ocupe BH, é Ocupe a Câmara, é Sarau Vira Lata, é Copac, é Câmara Transparente, é Nossa BH, é Levante da Juventude, é Dandara, Camilo Torres, Irmã Doroty e Eliana Silva, é Quem Luta Educa, são Movimentos Sociais, Políticos e Culturais que estão transformando esta cidade de uma maneira nunca vista. BH está se remoçando com idéias e atitudes. 

Realizada em diversas cidades do mundo, a Slud Walk ou Marcha das Vadias, surgiu no Canadá, depois que um policial, em palestra sobre violência contra a mulher, afirmou que são elas quem provocam a ação pois usam roupas insinuantes e que por isso são também responsáveis pelos estupros. Coitado, não sabia o que falava e nem imaginava o que esta fala causaria.

 Há muitos quilômetros de distância do Canadá, ali na Praça Rio Branco ou Praça da Rodoviária, no sábado a tarde um grupo de mulheres se reuniu para responder a este sujeito e muitos outros com quem convivem diariamente. Mulheres de todas as idades, cores e formas lutando contra todos os tipos de opressão e por respeito. Se no passado a luta foi por direitos, hoje elas vão além, exigem respeito. Respeito ao corpo, ao modo de se vestir, respeito a liberdade de ser mulher. Chega de opressão!

E nada mais poderia causar tanto espanto a tradicional família mineira que uma mulher de peitos de fora pela rua. Se fosse no carnaval ou num programa de TV, tudo bem. Mas na rua é inconcebível! Como se espantaram, como se assustaram! Corpos coloridos e com frases fortes. Marcados pela opressão, pela ditadura da estética, pelo machismo, pela falta de respeito. Os conservadores não alcançam, não entendem e criticam com o discurso vazio: liberdade tem limites!

Coitados, não se lembram que a tradição mineira é patriarcal, conservadora e opressora, e que por isso gera, de tempos em tempos, movimentos de contestação. Nossas lutas são locais e mundiais, e lutar pelo respeito às mulheres faz muito sentido por aqui. É preciso ter coragem, ter muita convicção e força para tirar a roupa em público. Não é fácil encarar olhares de desprezo e cobiça burra. Não é fácil encarar uma família tradicional, um patrão conservador ou um colega preconceituoso. Não é fácil lutar por questões que outros acreditam não fazerem sentido. Não é fácil trazer para o seio das montanhas o desejo da liberdade tão sonhada.

 Participei da Marcha das Vadias com uma fantasia: Coronel Antônio, representante da tradicional família, da moral e dos bons costumes. Vestido com um terno, um chapéu típico dos coronéis, bengala e um ferro de passar roupa, como símbolo do direito ao trabalho, doméstico. O terno foi decorado com várias frases machistas. As brincadeiras que surgiram no meio da marcha foram engraçadas e revelam o lado perverso do machismo: não é sério, é só de brincadeira. Mas aquela brincadeira ocorre seriamente no cotidiano de muitas mulheres e não podemos deixar que seja fato corriqueiro.

Ao final, na Praça da Liberdade, as frases foram arrancadas do terno e depois de despido escreveram com batom e tintas algumas frases em meu corpo. Em seguida era para eu falar algo interessante, algo que ilustrasse o meu apoio a luta das mulheres. Mas não consegui, a emoção impediu, só conseguia pensar em minhas antepassadas, Mãe, Avós e Tias, que já sofreram muito com preconceitos e discriminações simplesmente por serem mulheres.

 A minha voz embargou, por isso precisei escrever este texto. A Todas vocês mulheres de coragem, que se manifestaram neste sábado, o meu muito obrigado! Obrigado por terem compartilhado comigo momento tão importante e forte. Obrigado por terem me acolhido e brincado comigo. A questão é muito séria e a luta é longa.

Acredito que as próximas gerações, nossas filhas e filhos, poderão encontrar um mundo melhor, uma cidade melhor, porque vocês atuaram com coragem e determinação! Obrigado por ajudarem a mudar esta sociedade. E quando algum machão vier lhes censurar, lembrem-se: ele é passado, vocês são o futuro!

Quando uma mulher avança! Nenhum homem retrocede!