O carnaval passou feito um arrastão pelas ruas da cidade,
foram mais de 40 blocos com diferentes inspirações. E BH mostrou a sua cara:
diversa, multicolorida e liberta! Teve bloco só de marchinha, outros com
inspiração no maracatu, um outro de afoxé, outro de axé, mais um de marchinha,
outro de samba carioca e por ai a fora. Para todos os gostos e disposições,
teve bloco pela manhã, a tarde e a noite, em endereços e itinerários igualmente
diversos. Blocos temáticos, performáticos e muito divertidos. Estamos juntos e
misturados, compartilhando energia gracinha!
Por outro lado a PBH insiste em andar na contra-mão. Cercas
foram colocadas em praças, passeios e canteiros. Aliás, uma casa de show pode
cercar um passeio público? Será que a fiscalização permite cercas em passeios
para fazer área de fumante? Para priorar, em diversas praças não havia
banheiros suficientes, em outras a fiscalização espantou os ambulantes e os
foliões passaram sede. Aliás, isso de faltar água em eventos públicos em BH
esta virando tendência. Proibem o ambulante e não oferecem outra opção para o
cidadão comprar uma água.
Por falar em água, viram no mineirão? Pois é, mas pelo menos
no Indepêndencia tem. Mas quantas pessoas cabem no Independência? Tirando os
pontos cegos. Umas 30 mil? 20 mil? Uma pena, já vi o mineirão com mais de 80
mil atleticanos, onde será que vão estes outros 60 mil em dia de jogo? Será que
a torcida está diminuindo? Ou foram pular carnaval e esqueceram do jogo? Bem, acho que não, o estádio estava lotado, com gente do
lado de fora comprando ingresso de cambista por qualquer preço, e deve ter dado
muito lucro. E para distrair os torcedores, quem sabe assim eles não pensam no
preço do ingresso e no pouco que são, fizeram uma brincadeira distrindo copos
d’água com tampinha: aqui tem água.
A jogada de marketig foi sensacional, ao mesmo tempo que zoa
com o time rival, distrai os torcedores para que nem se lembrem que estão em um
estádio que cabe menos da metade do que se usava antes. Parece que admitiram
que a casa do Galo deve ser mesmo menor que a do Cruzeiro. Caiu no Horto tá
morto! Achei que para a Libertadores mereciam mais, mais lugares, mais público,
acesso mais fácil e muito mais conforto. Mas o que importa não é o acesso ao
estádio, o conforto do torcedor, o jogo ou os craques, o que importa é o lucro.
E porque estou misturando futebol e carnaval? Para chamar a sua
atenção para o seguinte: enquanto você se distrai, lhe roubam! O direito de ir
e vir, com cercas; o direito a assistir ao seu time do coração, limitando
ingressos, num estádio pequeno. Proibem ambulantes e ficamos sem água, cerveja
e o bom e velho tropeirão. Por falar nisso, ri muito de nossos cronistas
esportivos falando da volta do tropeirão. Um tropeirão falsificado e sem graça,
do jeito que estão ficando os nossos estádios, que também não podem ter faixas
e bandeiras.
E não acabou por ai, no carnaval não temos ônibus na cidade.
Linhas com quadro de horários reduzidos e algumas nem funcionando. E na
televisão a campanha: se for beber não dirija. E penso com meus botões: se for
em BH vai ter que andar a pé! Taxi só com muita paciência é possível conseguir.
Enquanto os blocos tomavam as ruas com mil, duas mil
pessoas, na praça da estação foi organizado o Carnaval oficial da PBH, para
mais de 30 mil. Um fiasco tão grande que os meios de comunicação nem
comentaram. Uma festa do jeito que eles sabem organizar, sem identidade com a
cidade, cercada com grades altas, catracas e ingressos antecipados. A
justificativa é a segurança. Uai, então os blocos que não têm cercas são
inseguros? Bem, eu não vi um tumulto, nada, nem uma confusão e olha que andei
um bocado por esta cidade. Ou será que os blocos por concentrarem menos
pessoas, em locais abertos e de fácil circulação, são mais seguros que a festa
organizada pela PBH? Desconfiou muito.
E ai vem outro detalhe, o nosso carnaval não é organizado
pela Fundação Municipal de Cultura. O carnaval em BH é organizado pela Belotur
e mais especificamente pela Gerência de Eventos e Novos Negócios. Imagine,
fazemos a festa e a PBH quer lucrar com ela! Quer transformá-la em “evento
mínimo” ou “evento de pequeno porte”, querem CNPJ, impostos, cercas e ordem,
muita ordem. Mas carnaval se faz no improviso, sem burocracias e mandatos.
Aliás, temos um Artigo na Constituição que garante isso! O 5º Artigo em sua XVI linha prevê:
“todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente.”
E é nessa que Lacerda e seus amigos se embolam. A Lei
Municipal nº 10.277 e o Decreto nº 14.589, ambos de 27 de setembro de 2011,
determinam limitações para manifestações públicas, tentam enquadra-las como
evento e não servem para absolutamente nada, por serem inconstitucionais. Pense
bem, o prefeito fez uma Lei Municipal que não tem validade Constitucional! Como
pode?
O que percebo meus amigos, é que eles não colaboram para uma
festa melhor, não atuam em diálogo com a população, não conseguem entender a
folia, não é por má vontade, é pura incompetência mesmo. Se fossem um pouco
mais capacitados, se entendessem de administração pública e dialogassem com a
população, BH teria uma festa muito mais confortável, ou pelo menos com mais
banheiros públicos e vendedores ambulantes.
Ps1. Sr. Mauro Werkena, Presidente da Belotur, gostaria de
lembrá-lo que a maioria dos blocos não recebeu um tostão da PBH ou Belotur. E
em muitos nem os banheiros e o diálogo com a BHTrans foi feito, como o
prometido! Na reunião convocada duas semanas antes do carnaval, numa
demonstração de desorganização e incompetência, o Sr. fez um discurso
equivocado e saiu sem escutar os representantes de blocos. Se quer novas
reuniões, se prepare, pois é visível o seu total desconhecimento de causa para
a função.
Ps2. Senhores administradores municipais, carnaval é festa
popular, é cultura na rua e não novos negócios! Não é isso que queremos! Não
queremos empresas, não queremos grandes eventos, não queremos trios elétricos!
Que tal passar a administração do Carnaval de BH para a Fundação Municipal de
Cultura! Vamos ser pelo menos coerentes?!
Ps3. Senhores, um outro convite: Vamos pensar uma forma de
liberar o trabalho dos ambulantes, pode ser cadastrando, fornecendo novas
caixas padronizadas, de preferência de plástico e de fácil limpeza, ou algo do
tipo. Fornecer água para as pessoas não pode ser um caso de polícia, mas de
saúde pública.