Participando de alguns movimentos pela cidade me deparo
sempre com uma questão quando começamos a levantar os problemas: “Não podemos
apenas criticar, temos que propor algo.” “A crítica pela crítica cai no vazio, temos
que ser propositivos.” Estas frases e outras do tipo parecem como um consenso
em diversos movimentos e comecei a pensar. Aliás, este texto aqui é pra pensar,
não é uma conclusão.
Imagine que você é um cidadão que trabalha na construção
civil, mora no Tony e trabalha no Belvedere. Por dia você gasta em torno de 2
horas para ir e outras 2 horas para voltar do trabalho. Você percebe que há
algo errado nisso, há oito anos atrás você fazia o mesmo percurso em 1 hora,
porque dobrou? Também há oito anos o preço da passagem era 1,65, agora é 2,65. Inconformado
com a situação você reclama e ao seu lado o amigo retruca: “cara você só sabe
reclamar!” Ou ainda, quando você tece um comentário do tipo: “essas obras da
prefeitura não vão resolver nada e ainda atrapalham a nossa vida.” A resposta
vem pronta: “uai, agora você é engenheiro? Já sabe que não vai resolver?” Ou
ainda: “falou espertão, agora ensina aos engenheiros a fazer melhor.”
Nas redes sociais não é diferente, basta apresentar uma
crítica que já vem alguém apontando: “este pessoal da esquerda só sabe
criticar, fazer algo que é bom nada!” Ou ainda: “falar é fácil quero ver ir lá
e fazer diferente.” Ou como prefere o nosso excelentíssimo Prefeito: “quem não
está satisfeito que se candidate nas próximas eleições.” E a maioria nem para pra
pensar um pouco nas críticas, quer mesmo é soluções, parece uma reação fruto da
ansiedade generalizada que ronda o mundo: não quero saber dos problemas ou, já
sei os problemas, quero ver as soluções.
Pois de tanto me apontarem assim acabei aprendendo sobre
mobilidade urbana, gentrificação, privatização do espaço público, gestão de
saúde e educação, parcerias público privadas, programas sociais
assistencialistas e estruturantes, funcionalismo público, gestão da cultura,
UMEI, APA, REIV, EIV, COMPUR, SUS, OP, UPA, BRT, PBH e um outro tanto de termos
e siglas.
Só que há um detalhe, a complexidade de tudo isso impede um conhecimento mais profundo, é exatamente por isso que existem especialistas em cada área. Não é possível saber tudo sobre tudo. Óbvio. Mas e aquele cidadão que não sabe nada sobre nada, que só sente na pele, como ele pode criticar sem saber apontar soluções? Pela teoria de uma parte da população ele simplesmente não pode criticar, tem que agüentar calado.
Só que há um detalhe, a complexidade de tudo isso impede um conhecimento mais profundo, é exatamente por isso que existem especialistas em cada área. Não é possível saber tudo sobre tudo. Óbvio. Mas e aquele cidadão que não sabe nada sobre nada, que só sente na pele, como ele pode criticar sem saber apontar soluções? Pela teoria de uma parte da população ele simplesmente não pode criticar, tem que agüentar calado.
Pensando sobre esta situação mudei de postura. Agora minhas
críticas serão apenas críticas e me abstenho de propor algo. Sou um simples
cidadão que sente a cidade na pele e não tenho conhecimento técnico suficiente
para dizer como dever ser gerido o transporte público, mais sei que da forma
como está não está certo. Também não entendo de engenharia, mas percebo que asfaltar
uma via e 6 meses depois retirar todo o asfalto para colocar concreto é falta
de planejamento e desperdício de dinheiro público. Não sei como gerir e manter
uma escola ou um posto de saúde, mas sei que garantir 30% para as empresas
terceirizadas que irão fazer esta tarefa não garante a qualidade do serviço
prestado à população. Também sei que uma empreiteira começar a construir um
hospital e depois abandonar a obra decretando falência, não é legal. Pior ainda
quando se sabe que a mesma empreiteira foi uma das financiadoras da campanha do
prefeito.
Eu não sei de nada, desconfio de muita coisa e não abro mão
do meu direito de reclamar, de protestar, de apontar. Quem sabe estes
apontamentos não ajudam os técnicos e especialistas a verem onde está o erro?
Um comentário:
Excelente texto, bem escrito e o melhor de tudo: falou o que eu estou pensando e queria dizer, mas ainda não tinha conseguido.
Abraço!
Postar um comentário