Acredito no estado eterno de mudanças.

Gosto de ver as mudanças da vida. Ontem criança, hoje adulto, amanhã idoso. Este espaço é para provocar diálogos que possam ajudar a mudar o meu jeito de olhar. E quem sabe você também entra nessa? Seja bem vindo, comente, critique, o anonimato aqui é bem vindo.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Que contamine!


Hoje de manhã fui a manifestação unificada dos servidores municipais, dos movimentos de luta por moradia, do MST e do SindiPetro. Conversei com uma amiga do serviço de saúde que saiu as pressas para cumprir a escala mínima. Uma professora, que conheço de outras marchas, cantou uma música para que eu decorasse: já peguei minha vassoura, traga também sua pá, vamos varrer Lacerda de BH! Já peguei minha vassoura, traga também sua pá, vamos limpar esta merda de BH! Rimos muito, abraçamos e cada um foi pro seu lado no meio da multidão.

Na sequência encontrei com o pessoal da Ocupação Eliana Silva que contaram sobre o terror que a PM está fazendo com ameaças de despejo. Fiquei imaginando a tensão das mães e filhos de colo. Mas o assunto mais importante não era este, era sobre a construção da creche: precisamos realizar ações para conseguir grana e terminar a construção da creche na comunidade.

E as lutas não param, no microfone são dados informes sobre os leilões dos postos de Petróleo da Petrobras. E em coro respondemos: não, não, não ao leilão! E para completar o pessoal do SindEletro vem relatar a precarização da CEMIG e terceirização dos serviços, enquanto pagamos uma das contas mais caras do Brasil. Um absurdo!

Absurdo também é o massacre de Felisburgo, onde um fazendeiro mandou e participou da chacina de sem terras. O caso foi em 2004 e o Sr. Chafik, este é o nome do fazendeiro, contratou e comandou a ação de pistoleiros que atiravam a esmo matando cinco trabalhadores rurais. Isso depois de covardemente soltar foguetes na entrada do acampamento, um sinal usado pela organização para convocar os trabalhadores para uma reunião. Quando chegaram ao local foram recebidos a bala. Covardia que até hoje a nossa justiça não julgou.

Ao sair da manifestação fiquei pensando no meu envolvimento nestas lutas. Como elas me contaminaram e fazem parte do meu cotidiano. Nos últimos dois anos participo de pelo menos duas reuniões políticas por semana, quando não quatro, cinco. Sempre no tempo livre que posso dedicar e isso me dá muito prazer. Criei um novo circulo social que me dá um sentimento de pertencimento ao mundo, de estar vivo, de irmanar com lutas aqui, no Xingu, ou em Madri.

Me lembrei das reuniões da Praia da Estação, onde comecei em 2010 a conhecer algumas destes movimentos. Foi da Praia que saiu o Fora Lacerda e onde chegou a notícia da fundação do COPAC –Comitê Popular dos Atingidos Pela Copa – que reúne gente desta cidade inteira.  Depois conheci o Quem Luta Educa, um fórum de apoio a greve dos professores estaduais em 2011 que se transformou num movimento de união de diversos sindicatos e movimentos sociais. Lá conheci mais gente de luta e não só de BH, mas de Minas e do Brasil inteiro. Existem correntes de luta que abraçam este pais de norte a sul e mesmo que a maioria de nós não as conheçam, elas estão ai se fortalecendo.

Neste emaranhado de pensamentos fiquei com a necessidade de escrever, mesmo que as ideias pareçam desconexas, mesmo que o sentido de tudo isso não se apresente assim, de primeira. É que carrego comigo um estranhamento do mundo, um sentimento meio Caetano Veloso: alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial... Um sentimento de estranhamento a esta realidade que vivemos. E é este estranhamento que me move, é esta ordem absurda que nos cerca que me move, que me dá forças para lutar contra. Não há salvação, não há volta, a única possibilidade é a luta.

E para não parecer radical demais deixo o diálogo que escutei entre um Senhor de 70 anos e um companheiro de lutas, um Praieiro que também estava na manifestação.
- Tenho 70 anos e sempre foi assim, greve, denúncias, corrupções e nada muda! Este país nunca teve governo!
- Olha meu senhor, concordo com o que disse, sou novo e o pouco que sei é de uns livros que li.  O mundo, desde que é mundo é assim, o poder concentrado nas mãos de poucos. E se nós que não nascemos em berço de ouro, que precisamos trabalhar todo dia para conseguir nosso sustento não pressionarmos, ou não darmos uma balançada nestes berços, a coisa só vai piorar. Por isso é importante lutar!

Espero que o sentimento de luta contamine cada dia mais pessoas, que sujeitos indignados consigam encontrar o caminho para expressar sua indignação. Que meus amigos que admiram a luta, mas se sentem reféns do sistema, encontrem seus espaços de libertação. Que cada um que se engaiolou ou se retirou para longe da cidade possa voltar com a crença de que podemos mudar. Que cada torcedor que já se emocionou em um estádio lotado possa se emocionar com uma avenida tomada pela multidão. Que cada cidadão dopado nos prozaques da vida consiga cuspir fora estes remédios de manutenção da ordem e gritem bem auto: “Se não nos deixarem sonhar não os deixaremos dormir!” Este é o lema da Luta Anti-manicomial que nesta quinta, dia 16/05 faz uma marcha divertida e muito politizada, o bloco de carnaval mais colorido e mais louco da cidade. É lógico que estarei entre eles! Afinal, eu estranho a normalidade, e ela me oprime e me faz lutar.