Hoje de manhã fui a manifestação unificada dos servidores
municipais, dos movimentos de luta por moradia, do MST e do SindiPetro.
Conversei com uma amiga do serviço de saúde que saiu as pressas para cumprir a
escala mínima. Uma professora, que conheço de outras marchas, cantou uma música
para que eu decorasse: já peguei minha vassoura, traga também sua pá, vamos
varrer Lacerda de BH! Já peguei minha vassoura, traga também sua pá, vamos
limpar esta merda de BH! Rimos muito, abraçamos e cada um foi pro seu lado no
meio da multidão.
Na sequência encontrei com o pessoal da Ocupação Eliana
Silva que contaram sobre o terror que a PM está fazendo com ameaças de despejo.
Fiquei imaginando a tensão das mães e filhos de colo. Mas o assunto mais importante
não era este, era sobre a construção da creche: precisamos realizar ações para
conseguir grana e terminar a construção da creche na comunidade.
E as lutas não param, no microfone são dados informes sobre
os leilões dos postos de Petróleo da Petrobras. E em coro respondemos: não,
não, não ao leilão! E para completar o pessoal do SindEletro vem relatar a
precarização da CEMIG e terceirização dos serviços, enquanto pagamos uma das
contas mais caras do Brasil. Um absurdo!
Absurdo também é o massacre de Felisburgo, onde um
fazendeiro mandou e participou da chacina de sem terras. O caso foi em 2004 e o
Sr. Chafik, este é o nome do fazendeiro, contratou e comandou a ação de
pistoleiros que atiravam a esmo matando cinco trabalhadores rurais. Isso depois
de covardemente soltar foguetes na entrada do acampamento, um sinal usado pela
organização para convocar os trabalhadores para uma reunião. Quando chegaram ao
local foram recebidos a bala. Covardia que até hoje a nossa justiça não julgou.
Ao sair da manifestação fiquei pensando no meu envolvimento
nestas lutas. Como elas me contaminaram e fazem parte do meu cotidiano. Nos
últimos dois anos participo de pelo menos duas reuniões políticas por semana,
quando não quatro, cinco. Sempre no tempo livre que posso dedicar e isso me dá
muito prazer. Criei um novo circulo social que me dá um sentimento de
pertencimento ao mundo, de estar vivo, de irmanar com lutas aqui, no Xingu, ou
em Madri.
Me lembrei das reuniões da Praia da Estação, onde comecei em
2010 a
conhecer algumas destes movimentos. Foi da Praia que saiu o Fora Lacerda e onde
chegou a notícia da fundação do COPAC –Comitê Popular dos Atingidos Pela Copa –
que reúne gente desta cidade inteira. Depois
conheci o Quem Luta Educa, um fórum de apoio a greve dos professores estaduais em
2011 que se transformou num movimento de união de diversos sindicatos e
movimentos sociais. Lá conheci mais gente de luta e não só de BH, mas de Minas
e do Brasil inteiro. Existem correntes de luta que abraçam este pais de norte a
sul e mesmo que a maioria de nós não as conheçam, elas estão ai se
fortalecendo.
Neste emaranhado de pensamentos fiquei com a necessidade de
escrever, mesmo que as ideias pareçam desconexas, mesmo que o sentido de tudo
isso não se apresente assim, de primeira. É que carrego comigo um estranhamento
do mundo, um sentimento meio Caetano Veloso: alguma coisa está fora da ordem, fora
da nova ordem mundial... Um sentimento de estranhamento a esta realidade que
vivemos. E é este estranhamento que me move, é esta ordem absurda que nos cerca
que me move, que me dá forças para lutar contra. Não há salvação, não há volta,
a única possibilidade é a luta.
E para não parecer radical demais deixo o diálogo que
escutei entre um Senhor de 70 anos e um companheiro de lutas, um Praieiro que
também estava na manifestação.
- Tenho 70 anos e sempre foi assim, greve, denúncias, corrupções e nada muda! Este país nunca teve governo!
- Tenho 70 anos e sempre foi assim, greve, denúncias, corrupções e nada muda! Este país nunca teve governo!
- Olha meu senhor, concordo com o que disse, sou novo e o
pouco que sei é de uns livros que li. O
mundo, desde que é mundo é assim, o poder concentrado nas mãos de poucos. E se
nós que não nascemos em berço de ouro, que precisamos trabalhar todo dia para
conseguir nosso sustento não pressionarmos, ou não darmos uma balançada nestes
berços, a coisa só vai piorar. Por isso é importante lutar!
Espero que o sentimento de luta contamine cada dia mais
pessoas, que sujeitos indignados consigam encontrar o caminho para expressar
sua indignação. Que meus amigos que admiram a luta, mas se sentem reféns do
sistema, encontrem seus espaços de libertação. Que cada um que se engaiolou ou se
retirou para longe da cidade possa voltar com a crença de que podemos mudar. Que
cada torcedor que já se emocionou em um estádio lotado possa se emocionar com
uma avenida tomada pela multidão. Que cada cidadão dopado nos prozaques da vida
consiga cuspir fora estes remédios de manutenção da ordem e gritem bem auto:
“Se não nos deixarem sonhar não os deixaremos dormir!” Este é o lema da Luta
Anti-manicomial que nesta quinta, dia 16/05 faz uma marcha divertida e muito
politizada, o bloco de carnaval mais colorido e mais louco da cidade. É lógico
que estarei entre eles! Afinal, eu estranho a normalidade, e ela me oprime e me
faz lutar.
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