Eu tenho 39 anos, sempre gostei de multidões e política. Já perdi a conta das mobilizações, comícios, passeatas, atos e marchas que participei. Mas nunca tive que defender minha ideologia com tanta força como hoje. Nunca imaginei que aqui em BH a esquerda seria hostilizada e demonizada como vi hoje. Nunca imaginei que iria retroceder no tempo e ter que defender liberdade! Achava que conquistas não retrocedem. Engano, vocês me mostraram diferente.
Em 1984, havia um ano que eu morava em BH
na Caetés com Guarani. Num dia, que não me lembro ao certo, um grupo de primas, primos e amigos se reuniu em
minha casa para ir a uma manifestação. Era as Diretas Já, um comício, acho que
chamavam assim, depois de insistir com a minha mãe e com o apoio dos primos
mais velhos, fui.
Dizem que reuniu mais de 100 mil pessoas,
lembro que o clima era de festa, todo mundo parado escutando diversos políticos
discursarem, muitas bandeiras de diversos partidos. Andamos pela multidão até achar um local tranqüilo pra ficar. Nem
prestei atenção em quem falava, curti estar no meio da multidão e ficava
sacando tudo. Meus irmãos cuidavam de mim com muita atenção, acho que ficaram
tensos com a minha presença. Minhas primas eram muito engraçadas, usavam umas roupas coloridas, estrelas vermelhas e trocávamos muitas idéias
sobre política. Foi assim que aprendi o que é direita, esquerda, comunismo,
socialismo, fascismo, liberalismo e democracia.
Em 92 participei do Fora Collor. Destas,
que foram várias marchas, guardo recordações incríveis. Parávamos até escola particular,
tudo articulado entre os grêmios. No municipal, negociávamos com os professores
e eles nos liberavam no terceiro horário, já valia dia letivo. Depois saíamos
passando nos colégios e chamando a galera. O grêmio que já estava avisado, negociava
com a diretoria e o segundo grau descia. Seguíamos para a praça Afonso Arinos e
fazíamos atos com falas diversas. A Kombi de som era emprestada de um sindicato
e o material gráfico era doação de outro. As marchas foram crescendo até que um
dia começaram a aparecer na TV. Já tinha quatro meses que manifestávamos e as
redes de televisão não passavam nada, ou diziam ser por motivos outros.
Depois disso participei de manifestações
contra as privatização, greves dos professores, Grito dos Excluídos, Encontro
dos Movimentos Sociais, Fora Lacerda e das Marchas, Mundial das Mulheres, das
Vadias, LGBT e da maconha. Em todas estas manifestações nunca tive que defender
uma postura de esquerda. Todos que estavam nelas são de esquerda. Ah, e não
posso deixar de citar as marchas de luta por moradia e em defesa das ocupações
em BH. Estamos juntos e misturados!
Mas de uma manifestação para outra a coisa muda e de repente carregar uma bandeira de partido é ser chamado de oportunista. Levar uma bandeira vermelha tornou-se motivo para correr risco de ser agredido. Uma horda de bárbaros agindo orquestradamente começa vaiando, depois mandando abaixar e em seguida agredindo. Uma tropa de frente cuida do contato físico, enquanto na retaguarda uma tropa de play boys incita a juventude a gritar: sem partido! Sem partido!
Mas de uma manifestação para outra a coisa muda e de repente carregar uma bandeira de partido é ser chamado de oportunista. Levar uma bandeira vermelha tornou-se motivo para correr risco de ser agredido. Uma horda de bárbaros agindo orquestradamente começa vaiando, depois mandando abaixar e em seguida agredindo. Uma tropa de frente cuida do contato físico, enquanto na retaguarda uma tropa de play boys incita a juventude a gritar: sem partido! Sem partido!
Meu irmão eu lhe digo: o baque é louco!
Hoje por diversas vezes dialoguei com os jovens e tentei explicar o que são
aqueles partidos que levam bandeiras. Aqueles partidos que ainda tem bandeiras.
Aqueles partidos que sempre denunciaram a máfia do transporte público e os
aumentos abusivos. Aqueles partidos que não recebem financiamento de empresas
de ônibus. Mas a inocência cega segue o líder sem questionar e não escuta
estranhos, ou melhor, acompanha estranhos só no facebook.
Jovens não irei lhes explicar o que é ser
de esquerda, ou o que são aqueles partidos, ou sobre o que lutamos juntos. Não
quero pagar de professor, nem de pai. Porque mesmo que você não saiba, por ter
ido as ruas hoje você é esquerda! Na nossa direita estão os donos das empresas
de ônibus. Sacou? Ah, e um pouco além da esquerda estão os anarquistas, eles
fazem black blocks, ações pacifistas, procure conhecer, eles são jovens como
você.
Meus irmãos, você aí que passou dos trinta e entende
do que falo, saia de casa neste sábado, vamos nos encontrar na praça sete às
10h da manhã, vá de vermelho pela luta internacional. Vamos levar nossas
bandeiras de todas as cores, as roxo e rosas dos movimentos das mulheres, as
laranjas das lutas contra o prefeito e as amarelas do Copac. E vamos fazer uma
grande corrente democrática. Fascistas não passarão!