Acredito no estado eterno de mudanças.

Gosto de ver as mudanças da vida. Ontem criança, hoje adulto, amanhã idoso. Este espaço é para provocar diálogos que possam ajudar a mudar o meu jeito de olhar. E quem sabe você também entra nessa? Seja bem vindo, comente, critique, o anonimato aqui é bem vindo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Qual o problema?

Me impressiona como a "síndrome de vira-lata" está enraizada na mente dos Brasileiros. Definida pelos psicólogos que acompanhavam a seleção Brasileira nas décadas de 1950 e 1960, o termo foi eternizado pelo cronista Nelson Rodrigues. Era a justificativa para o medo e o respeito excessivo que a seleção tinha de outros times. Éramos os vira-latas e temíamos os puros-sangues Ingleses, Germanos, Italianos, Espanhóis. Putz grila, haja baixo estima!
Ainda hoje, vejo gente enchendo o peito e falando: o problema do Brasil é o Brasileiro, ou, o que fode o Brasil é o jeitinho Brasileiro. Para justificar as falas, a velha idéia de que a escoria européia veio para o Brasil ou que o Brasileiro é desonesto por natureza.

É lamentável a falta de amor próprio e de informação. Para início de conversa, durante o século XVIII vieram, somente para as Minas Gerais, mais de 300.000* pessoas. Este contingente é maior que a população inteira de Portugal na época. Por volta de 1765, a população de Ouro Preto era de aproximadamente 20.000*, uma das 3 cidades mais populosas do mundo, na época. Agora me digam, quem foi o estúpido historiador que inventou a lenda de que somente renegados, degredados, a escória veio pra cá? Desde quando o clero e os monarcas iriam deixar as maiores minas de ouro do mundo nas mãos de degredados? Faz me rir, as lendas e os seus repetidores.


Ah, tem mais, muito mais. No século seguinte, as minas de ouro depois de rederem mais mil toneladas e financiarem as lutas Inglesas contra Napoleão, entraram em decadência*. Ao mesmo tempo foi descoberto o Distrito Diamantino. Para se ter uma idéia da quantidade de diamantes, extraídos das catas – minas a céu aberto, únicas no mundo – foram suficientes para quebrar banqueiros e judeus por toda a Europa, ao ponto de muitos abandonaram o oficio de joalheiros, crentes de que a pedra nunca mais iria alcançar o valor de mercado anterior, devido a tamanha oferta.** Mais uma vez eu pergunto, algum banqueiro em sã consciência iria deixar estas riqueza nas mãos de aventureiros? Tudo bem que eles não vinham para se fixarem aqui, queriam pegar o ouro e voltar, mas dizer que eram apenas renegados, aventureiros e usar isso como justificativa para os nosso problemas sociais é no mínimo raso. E para mim, uma ofensa.


A nobreza, o clero e a coroa Portuguesa, que formavam a elite que para cá se dirigiu, se organizaram muito bem, se uniram e estavam determinados a manter a todo custo as suas regalias e riquezas. Precisavam lutar contra uma horda de aventureiros, eles também vieram, escravos, índios e invasores de outros Paises. Esta elite, por incrível que pareça, ainda está no poder. Em Alagoas por exemplo, grandes usineiros são herdeiros de capitães donatários. Em Minas Gerais também, muitas famílias da elite política atual, são descendentes diretos dos primeiros donos das terras, que foram doadas pela Coroa, ou seus novos aliados, que prosperaram aqui.


Então, antes de falar do meu povo, dobre a língua. Sou miscigenado, vira-lata PO e isso, biologicamente falando, me garante maior resistência contra parasitas e microorganismos. Sou vira-lata, safo, malandro e me viro em qualquer ambiente. Me adapto com facilidade, camuflo, disfarço, faço e aconteço, tudo para sobreviver. E isso não tem nada a ver com ética ou moral. Esta visão anti-ética, amoral e corrupta, é uma criação moderna, não tem nem 50 anos e é reflexo do choque entre uma elite bem aparelhada e forte, contra um proletariado abandonado e desprovido de recursos.

É lindo, sentar no troninho de classe media, pegar uma cerveja gelada, acender um cigarro e soltar: o povo Brasileiro tem o pais que merece. É mesmo? Será que não tem algumas pessoas por ai, muito bem articuladas, lidas e corridas, afim de te manter neste comodismo e o restante da população convencida de que não tem forças para mudar?

Enquanto o sentimento de povo não atingir a classe media, ela vai continuar a querer ser elite e renegar sua condição de proletariado. O proletariado sem os seus membros esclarecidos, que ganharam o status de “classe média”, se vê ainda mais só e abandonado. Ai sim, ele rouba, mata, corrompe e faz o diabo a quatro para sobreviver.

E sempre foi mais ou menos assim, dos nossos antepassados negros, que engoliam pepitas de ouro para libertar os companheiros, aos índios, que escondidos nas matas, matavam os bandeirantes um a um, para provocar maior terror. Do árabe que atravessou meio mundo para negociar com os mineiros, ao Judeu, que veio conferir de onde saia tanto diamante e como ele poderia conseguir alguns. Somos um resumo do mundo, somos plurais, dos cabelos aos neurônios.

*In: As Veias Abertas da América Latina. Eduardo Galeano, 1990
**In: Memórias do Distrito Diamantino. Joaquim Felício dos Santos, 1868

4 comentários:

Matatas disse...

adoro visões antagônicas às minhas! Concordo com muito do que você disse; minhas opiniões nunca são absolutamente fundamentadas, e raramente são retratos fiéis de nada (prefiro radicalizar do que reconhecer as sutilezas da diversidade humana). Mas mantenho firme que o egoísmo e a falta de senso de comunidade são presentes no povo brasileiro. Mantenho ainda que a idéia de "me adapto com facilidade, camuflo, disfarço, faço e aconteço, tudo para sobreviver" são características que, enquanto garantia de sobrevivência individual são válidas, mas que, ao mesmo tempo, não constróem uma sociedade justa e/ou coesa.

Pode ser uma visão excessivamente conservadora e plutocrata, mas o conceito de "do your own thing" é inviável. Prova maior da falta de senso de coletividade do povo brasileiro (novamente, estou generalizando) é que as elites bem aparelhadas e fortes lutando contra um proletariado abandonado e desprovido de recursos existem ou já existiram em todo o mundo. Em alguns lugares, o povo se levantou e decapitou a aristocracia, em outros tomaram as terras da família que detinha quase metade do país.

E aqui? Mesmo com as diferenças sócio-econômicas e culturais entre elite e proletariado, os dirigentes são escolhidos por voto popular. Não seria muito condescendente acreditar que o proletariado, ignorante e sem escolaridade, precisa da ajuda de uma elite intelectual para fazer suas escolhas? O que é pior, democracia cleptocrática ou meritocracia intelectual?

Anônimo disse...

Mas Matias, quem ia decidir o direito à cidadania (no sentido ateniense da palavra)? A prova do ENEM?

Michel Montandon disse...

É nóis !

Anônimo disse...

Fidel, aih vai meu blog novo!! Dah uma passada lah!
Beijoooo!