Acredito no estado eterno de mudanças.

Gosto de ver as mudanças da vida. Ontem criança, hoje adulto, amanhã idoso. Este espaço é para provocar diálogos que possam ajudar a mudar o meu jeito de olhar. E quem sabe você também entra nessa? Seja bem vindo, comente, critique, o anonimato aqui é bem vindo.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Obrigado Jovens!

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Eu tenho 39 anos, sempre gostei de multidões e política. Já perdi a conta das mobilizações, comícios, passeatas, atos e marchas que participei. Mas nunca tive que defender minha ideologia com tanta força como hoje. Nunca imaginei que aqui em BH a esquerda seria hostilizada e demonizada como vi hoje. Nunca imaginei que iria retroceder no tempo e ter que defender liberdade! Achava que conquistas não retrocedem. Engano, vocês me mostraram diferente.

Em 1984, havia um ano que eu morava em BH na Caetés com Guarani. Num dia, que não me lembro  ao certo, um grupo de primas, primos e amigos se reuniu em minha casa para ir a uma manifestação. Era as Diretas Já, um comício, acho que chamavam assim, depois de insistir com a minha mãe e com o apoio dos primos mais velhos, fui.

Dizem que reuniu mais de 100 mil pessoas, lembro que o clima era de festa, todo mundo parado escutando diversos políticos discursarem, muitas bandeiras de diversos partidos. Andamos pela multidão até achar um local tranqüilo pra ficar. Nem prestei atenção em quem falava, curti estar no meio da multidão e ficava sacando tudo. Meus irmãos cuidavam de mim com muita atenção, acho que ficaram tensos com a minha presença. Minhas primas eram muito engraçadas, usavam umas roupas coloridas, estrelas vermelhas e trocávamos muitas idéias sobre política. Foi assim que aprendi o que é direita, esquerda, comunismo, socialismo, fascismo, liberalismo e democracia.

Em 92 participei do Fora Collor. Destas, que foram várias marchas, guardo recordações incríveis. Parávamos até escola particular, tudo articulado entre os grêmios. No municipal, negociávamos com os professores e eles nos liberavam no terceiro horário, já valia dia letivo. Depois saíamos passando nos colégios e chamando a galera. O grêmio que já estava avisado, negociava com a diretoria e o segundo grau descia. Seguíamos para a praça Afonso Arinos e fazíamos atos com falas diversas. A Kombi de som era emprestada de um sindicato e o material gráfico era doação de outro. As marchas foram crescendo até que um dia começaram a aparecer na TV. Já tinha quatro meses que manifestávamos e as redes de televisão não passavam nada, ou diziam ser por motivos outros.

Depois disso participei de manifestações contra as privatização, greves dos professores, Grito dos Excluídos, Encontro dos Movimentos Sociais, Fora Lacerda e das Marchas, Mundial das Mulheres, das Vadias, LGBT e da maconha. Em todas estas manifestações nunca tive que defender uma postura de esquerda. Todos que estavam nelas são de esquerda. Ah, e não posso deixar de citar as marchas de luta por moradia e em defesa das ocupações em BH. Estamos juntos e misturados!

Mas de uma manifestação para outra a coisa muda e de repente carregar uma bandeira de partido é ser chamado de oportunista. Levar uma bandeira vermelha tornou-se motivo para correr risco de ser agredido. Uma horda de bárbaros agindo orquestradamente começa vaiando, depois mandando abaixar e em seguida agredindo. Uma tropa de frente cuida do contato físico, enquanto na retaguarda uma tropa de play boys incita a juventude a gritar: sem partido! Sem partido!

Meu irmão eu lhe digo: o baque é louco! Hoje por diversas vezes dialoguei com os jovens e tentei explicar o que são aqueles partidos que levam bandeiras. Aqueles partidos que ainda tem bandeiras. Aqueles partidos que sempre denunciaram a máfia do transporte público e os aumentos abusivos. Aqueles partidos que não recebem financiamento de empresas de ônibus. Mas a inocência cega segue o líder sem questionar e não escuta estranhos, ou melhor, acompanha estranhos só no facebook.

Jovens não irei lhes explicar o que é ser de esquerda, ou o que são aqueles partidos, ou sobre o que lutamos juntos. Não quero pagar de professor, nem de pai. Porque mesmo que você não saiba, por ter ido as ruas hoje você é esquerda! Na nossa direita estão os donos das empresas de ônibus. Sacou? Ah, e um pouco além da esquerda estão os anarquistas, eles fazem black blocks, ações pacifistas, procure conhecer, eles são jovens como você.

Meus irmãos, você aí que passou dos trinta e entende do que falo, saia de casa neste sábado, vamos nos encontrar na praça sete às 10h da manhã, vá de vermelho pela luta internacional. Vamos levar nossas bandeiras de todas as cores, as roxo e rosas dos movimentos das mulheres, as laranjas das lutas contra o prefeito e as amarelas do Copac. E vamos fazer uma grande corrente democrática. Fascistas não passarão!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Eu levo uma bandeira que abraça a sua causa, mesmo que você não saiba.




A marcha que aconteceu no último sábado 15/06 em BH foi sensacional. Apesar da ansiedade juvenil de puxa-la antes de ter 30 min. de concentração, mesmo com toda euforia de jovens lideres que saíram correndo com a marcha deixando os companheiros na resistência sozinhos. Mesmo com a falta de noção de alguns que confundem patriotismo com cidadania. Não galera, não dá pra cantar o hino nacional enquanto Dilma manda forças policiais para Belo Monte ou quando o BNDES já liberou mais de 75 bilhões para as obras da Copa.

A espontaneidade, a união de diversos movimentos, os gritos de guerra, e a chegada a praça da estação, foram maiores que qualquer problema. Menos um, que ao meu ver é grave e revela uma grande falta de politização dos nosso jovens*(uma correção importante). Entendo que a mídia e que os grandes partidos trabalhem esta alienação política, mas ver jovens embarcando nelas é triste.

A primeira vez que vi o pedido de não levar bandeiras em uma manifestação foi na marcha contra a corrupção em 07 de setembro de 2011. No dia, alguns companheiros do Fora Lacerda, que participaram do Grito dos Excluídos pela manhã, foram a tarde a marcha contra a corrupção. E que susto! Quando chegamos alguns militantes do PSTU estavam sendo agredidos por jovens raivosos que queriam queimar suas bandeiras. Intervimos e a turma "do deixa disso" conseguiu apartar os agressores, o pessoal do PSTU saiu da manifestação e ficou olhando de longe. O que estava acontecendo ali? Na sequência, um membro do Fora Lacerda tentou usar um megafone para informar a próxima marcha do movimento. Foi impedido por uma senhora que acusava o movimento de ser partidário. Tentamos explicar e ela tampou os ouvidos e saiu. Logo em seguida alguns anonymous, até hoje queremos saber quem eram para agradecer, nos entregaram um megafone e nos rodearam para escutar. Mas a mesma senhora voltou, agora aos berros, dizendo que estávamos fumando maconha ali! Putz! Sem comentários, demos o nosso recado e partimos. Na saída um panfleto com capas de Veja do governo Lula em papel de alta qualidade produzido pelo movimento RPJ – Reforma Política Já. Para deixar claro, eu quero reforma política no Brasil, mas não é a mesma reforma destes caras, que pretendem reforçar currais eleitorais e deixar a democracia mais distante do povo.

Quando cheguei em casa, muito encucado, fui pesquisar sobre o RPJ, sobre a marcha contra a corrupção e sobre alguns sujeitos que vi por lá. Batata! Eram ativistas das redes sociais, trabalhavam para o PSDB. São citados em diversos blogs e matérias sobre ativismo na rede, em especial na perseguição aos ministros Dilma. Quando confrontados nas redes, eles diziam, somos apartidários, não somos filiados ao PSDB. Ah sim, mas admitiam fazer ações na internet para o PSDB! Só ai entendi porque não podia levar bandeiras ou denunciar a corrupção do Governo Estadual e Municipal. Quem tem coragem de carregar uma bandeira do PSDB? Quem ainda sai as ruas com uma bandeira do PMDB? Será que existe bandeira do DEM?

Por outro lado, os partidos realmente de esquerda, PSOL, PCB e PSTU estão envolvidos em várias lutas que todos nos apoiamos. As bandeiras que foram vaiadas ontem – que vergonha alheia! – são as mesmas que estavam nas greves dos professores, em defesa de melhor educação pública! São as mesmas bandeiras que estavam nas manifestações dos profissionais de saúde, em defesa do SUS! São as mesmas bandeiras que vão dar apoio as ocupações da cidade! São as mesmas bandeiras que vão a Marcha Mundial das Mulheres, a Marcha das Vadias e a Parada do Orgulho Gay! São as mesmas bandeiras que ajudam a construir diversos movimentos de engajamento popular! São as mesmas bandeiras que denunciam insistentemente o controle da economia sobre a política! São as mesmas bandeiras que em toda eleição denunciam o sistema corrupto, os desequilíbrios do sistema democrático e uma diversidade de assuntos que os partidos que estão no poder não querem falar. Engraçado é que se marcha contra a corrupção, mas não se marcha contra o financiamento privado de campanhas.

Então meus amigos, que ontem vaiaram as bandeiras dos partidos, pensem um pouco, tenham senso crítico! Onde estes partidos podem conseguir alguma visibilidade? Nos 30 segundos que tem na TV? Nas “matérias” que as grandes mídias fazem sobre eles? Em comerciais pagos por grandes empreiteiras? Em redes de blogueiros e ativistas pagos? E qual o problema dos partidos conseguirem alguma visibilidade nos atos que eles ajudam a construir cotidianamente? Visibilidade esta que para a grande mídia é a de baderneiros!

Para concluir, entendo que vivemos a decadência do modelo partidário. Entendo que é difícil para muita gente entender as diferenças entre os partidos. Entendo a decepção com a esquerda. Entendo o não querer. Mas não admito que reprimam o direito de livre manifestação e de carregar com orgulho a bandeira do partido que escolhi ajudar a construir. Uma escolha que me foi penosa, que demorou mais de 4 anos de pesquisa e muitas manifestações. Uma escolha que antes de me dar orgulho me dá um trabalho enorme. E disso eu não abro mão! Aproveito para lhes convidar a conhecer o PSOL. Antes de nos vaiar, tenha pelo menos motivos para tal. Porque uma bandeira não pode ser a base do seu entendimento partidário. Envolva-se com a política, mergulhe fundo! Acredite e tenha coragem!

*O Tio aqui as vezes perde a mão, generaliza de forma medonha, até parecer um reaça. É que erro também. Foi mal galera firmeza que faz a diferença, mas acho que vocês sacam da geral que falo!


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Que contamine!


Hoje de manhã fui a manifestação unificada dos servidores municipais, dos movimentos de luta por moradia, do MST e do SindiPetro. Conversei com uma amiga do serviço de saúde que saiu as pressas para cumprir a escala mínima. Uma professora, que conheço de outras marchas, cantou uma música para que eu decorasse: já peguei minha vassoura, traga também sua pá, vamos varrer Lacerda de BH! Já peguei minha vassoura, traga também sua pá, vamos limpar esta merda de BH! Rimos muito, abraçamos e cada um foi pro seu lado no meio da multidão.

Na sequência encontrei com o pessoal da Ocupação Eliana Silva que contaram sobre o terror que a PM está fazendo com ameaças de despejo. Fiquei imaginando a tensão das mães e filhos de colo. Mas o assunto mais importante não era este, era sobre a construção da creche: precisamos realizar ações para conseguir grana e terminar a construção da creche na comunidade.

E as lutas não param, no microfone são dados informes sobre os leilões dos postos de Petróleo da Petrobras. E em coro respondemos: não, não, não ao leilão! E para completar o pessoal do SindEletro vem relatar a precarização da CEMIG e terceirização dos serviços, enquanto pagamos uma das contas mais caras do Brasil. Um absurdo!

Absurdo também é o massacre de Felisburgo, onde um fazendeiro mandou e participou da chacina de sem terras. O caso foi em 2004 e o Sr. Chafik, este é o nome do fazendeiro, contratou e comandou a ação de pistoleiros que atiravam a esmo matando cinco trabalhadores rurais. Isso depois de covardemente soltar foguetes na entrada do acampamento, um sinal usado pela organização para convocar os trabalhadores para uma reunião. Quando chegaram ao local foram recebidos a bala. Covardia que até hoje a nossa justiça não julgou.

Ao sair da manifestação fiquei pensando no meu envolvimento nestas lutas. Como elas me contaminaram e fazem parte do meu cotidiano. Nos últimos dois anos participo de pelo menos duas reuniões políticas por semana, quando não quatro, cinco. Sempre no tempo livre que posso dedicar e isso me dá muito prazer. Criei um novo circulo social que me dá um sentimento de pertencimento ao mundo, de estar vivo, de irmanar com lutas aqui, no Xingu, ou em Madri.

Me lembrei das reuniões da Praia da Estação, onde comecei em 2010 a conhecer algumas destes movimentos. Foi da Praia que saiu o Fora Lacerda e onde chegou a notícia da fundação do COPAC –Comitê Popular dos Atingidos Pela Copa – que reúne gente desta cidade inteira.  Depois conheci o Quem Luta Educa, um fórum de apoio a greve dos professores estaduais em 2011 que se transformou num movimento de união de diversos sindicatos e movimentos sociais. Lá conheci mais gente de luta e não só de BH, mas de Minas e do Brasil inteiro. Existem correntes de luta que abraçam este pais de norte a sul e mesmo que a maioria de nós não as conheçam, elas estão ai se fortalecendo.

Neste emaranhado de pensamentos fiquei com a necessidade de escrever, mesmo que as ideias pareçam desconexas, mesmo que o sentido de tudo isso não se apresente assim, de primeira. É que carrego comigo um estranhamento do mundo, um sentimento meio Caetano Veloso: alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial... Um sentimento de estranhamento a esta realidade que vivemos. E é este estranhamento que me move, é esta ordem absurda que nos cerca que me move, que me dá forças para lutar contra. Não há salvação, não há volta, a única possibilidade é a luta.

E para não parecer radical demais deixo o diálogo que escutei entre um Senhor de 70 anos e um companheiro de lutas, um Praieiro que também estava na manifestação.
- Tenho 70 anos e sempre foi assim, greve, denúncias, corrupções e nada muda! Este país nunca teve governo!
- Olha meu senhor, concordo com o que disse, sou novo e o pouco que sei é de uns livros que li.  O mundo, desde que é mundo é assim, o poder concentrado nas mãos de poucos. E se nós que não nascemos em berço de ouro, que precisamos trabalhar todo dia para conseguir nosso sustento não pressionarmos, ou não darmos uma balançada nestes berços, a coisa só vai piorar. Por isso é importante lutar!

Espero que o sentimento de luta contamine cada dia mais pessoas, que sujeitos indignados consigam encontrar o caminho para expressar sua indignação. Que meus amigos que admiram a luta, mas se sentem reféns do sistema, encontrem seus espaços de libertação. Que cada um que se engaiolou ou se retirou para longe da cidade possa voltar com a crença de que podemos mudar. Que cada torcedor que já se emocionou em um estádio lotado possa se emocionar com uma avenida tomada pela multidão. Que cada cidadão dopado nos prozaques da vida consiga cuspir fora estes remédios de manutenção da ordem e gritem bem auto: “Se não nos deixarem sonhar não os deixaremos dormir!” Este é o lema da Luta Anti-manicomial que nesta quinta, dia 16/05 faz uma marcha divertida e muito politizada, o bloco de carnaval mais colorido e mais louco da cidade. É lógico que estarei entre eles! Afinal, eu estranho a normalidade, e ela me oprime e me faz lutar.  

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Estão cerceando nossas paixões!



O carnaval passou feito um arrastão pelas ruas da cidade, foram mais de 40 blocos com diferentes inspirações. E BH mostrou a sua cara: diversa, multicolorida e liberta! Teve bloco só de marchinha, outros com inspiração no maracatu, um outro de afoxé, outro de axé, mais um de marchinha, outro de samba carioca e por ai a fora. Para todos os gostos e disposições, teve bloco pela manhã, a tarde e a noite, em endereços e itinerários igualmente diversos. Blocos temáticos, performáticos e muito divertidos. Estamos juntos e misturados, compartilhando energia gracinha!

Por outro lado a PBH insiste em andar na contra-mão. Cercas foram colocadas em praças, passeios e canteiros. Aliás, uma casa de show pode cercar um passeio público? Será que a fiscalização permite cercas em passeios para fazer área de fumante? Para priorar, em diversas praças não havia banheiros suficientes, em outras a fiscalização espantou os ambulantes e os foliões passaram sede. Aliás, isso de faltar água em eventos públicos em BH esta virando tendência. Proibem o ambulante e não oferecem outra opção para o cidadão comprar uma água.

Por falar em água, viram no mineirão? Pois é, mas pelo menos no Indepêndencia tem. Mas quantas pessoas cabem no Independência? Tirando os pontos cegos. Umas 30 mil? 20 mil? Uma pena, já vi o mineirão com mais de 80 mil atleticanos, onde será que vão estes outros 60 mil em dia de jogo? Será que a torcida está diminuindo? Ou foram pular carnaval e esqueceram do jogo? Bem, acho que não, o estádio estava lotado, com gente do lado de fora comprando ingresso de cambista por qualquer preço, e deve ter dado muito lucro. E para distrair os torcedores, quem sabe assim eles não pensam no preço do ingresso e no pouco que são, fizeram uma brincadeira distrindo copos d’água com tampinha: aqui tem água.

A jogada de marketig foi sensacional, ao mesmo tempo que zoa com o time rival, distrai os torcedores para que nem se lembrem que estão em um estádio que cabe menos da metade do que se usava antes. Parece que admitiram que a casa do Galo deve ser mesmo menor que a do Cruzeiro. Caiu no Horto tá morto! Achei que para a Libertadores mereciam mais, mais lugares, mais público, acesso mais fácil e muito mais conforto. Mas o que importa não é o acesso ao estádio, o conforto do torcedor, o jogo ou os craques, o que importa é o lucro.

E porque estou misturando futebol e carnaval? Para chamar a sua atenção para o seguinte: enquanto você se distrai, lhe roubam! O direito de ir e vir, com cercas; o direito a assistir ao seu time do coração, limitando ingressos, num estádio pequeno. Proibem ambulantes e ficamos sem água, cerveja e o bom e velho tropeirão. Por falar nisso, ri muito de nossos cronistas esportivos falando da volta do tropeirão. Um tropeirão falsificado e sem graça, do jeito que estão ficando os nossos estádios, que também não podem ter faixas e bandeiras.

E não acabou por ai, no carnaval não temos ônibus na cidade. Linhas com quadro de horários reduzidos e algumas nem funcionando. E na televisão a campanha: se for beber não dirija. E penso com meus botões: se for em BH vai ter que andar a pé! Taxi só com muita paciência é possível conseguir.

Enquanto os blocos tomavam as ruas com mil, duas mil pessoas, na praça da estação foi organizado o Carnaval oficial da PBH, para mais de 30 mil. Um fiasco tão grande que os meios de comunicação nem comentaram. Uma festa do jeito que eles sabem organizar, sem identidade com a cidade, cercada com grades altas, catracas e ingressos antecipados. A justificativa é a segurança. Uai, então os blocos que não têm cercas são inseguros? Bem, eu não vi um tumulto, nada, nem uma confusão e olha que andei um bocado por esta cidade. Ou será que os blocos por concentrarem menos pessoas, em locais abertos e de fácil circulação, são mais seguros que a festa organizada pela PBH? Desconfiou muito.

E ai vem outro detalhe, o nosso carnaval não é organizado pela Fundação Municipal de Cultura. O carnaval em BH é organizado pela Belotur e mais especificamente pela Gerência de Eventos e Novos Negócios. Imagine, fazemos a festa e a PBH quer lucrar com ela! Quer transformá-la em “evento mínimo” ou “evento de pequeno porte”, querem CNPJ, impostos, cercas e ordem, muita ordem. Mas carnaval se faz no improviso, sem burocracias e mandatos. Aliás, temos um Artigo na Constituição que garante isso! O 5º Artigo em sua XVI linha prevê: “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.”

E é nessa que Lacerda e seus amigos se embolam. A Lei Municipal nº 10.277 e o Decreto nº 14.589, ambos de 27 de setembro de 2011, determinam limitações para manifestações públicas, tentam enquadra-las como evento e não servem para absolutamente nada, por serem inconstitucionais. Pense bem, o prefeito fez uma Lei Municipal que não tem validade Constitucional! Como pode?

O que percebo meus amigos, é que eles não colaboram para uma festa melhor, não atuam em diálogo com a população, não conseguem entender a folia, não é por má vontade, é pura incompetência mesmo. Se fossem um pouco mais capacitados, se entendessem de administração pública e dialogassem com a população, BH teria uma festa muito mais confortável, ou pelo menos com mais banheiros públicos e vendedores ambulantes.



Ps1. Sr. Mauro Werkena, Presidente da Belotur, gostaria de lembrá-lo que a maioria dos blocos não recebeu um tostão da PBH ou Belotur. E em muitos nem os banheiros e o diálogo com a BHTrans foi feito, como o prometido! Na reunião convocada duas semanas antes do carnaval, numa demonstração de desorganização e incompetência, o Sr. fez um discurso equivocado e saiu sem escutar os representantes de blocos. Se quer novas reuniões, se prepare, pois é visível o seu total desconhecimento de causa para a função.

Ps2. Senhores administradores municipais, carnaval é festa popular, é cultura na rua e não novos negócios! Não é isso que queremos! Não queremos empresas, não queremos grandes eventos, não queremos trios elétricos! Que tal passar a administração do Carnaval de BH para a Fundação Municipal de Cultura! Vamos ser pelo menos coerentes?!

Ps3. Senhores, um outro convite: Vamos pensar uma forma de liberar o trabalho dos ambulantes, pode ser cadastrando, fornecendo novas caixas padronizadas, de preferência de plástico e de fácil limpeza, ou algo do tipo. Fornecer água para as pessoas não pode ser um caso de polícia, mas de saúde pública.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Carta de apresentação para filiação ao PSOL.



 “Eu nunca faria parte de um clube que me aceitasse como sócio." Groucho Marx*

Até bem pouco tempo esta frase resumia o meu pensamento sobre as instituições em geral: igrejas, sindicatos, movimentos sociais, partidos políticos, etc...
Já participei de Grêmios Estudantis e hoje participo do Fora Lacerda e do COPAC – Comitê Popular dos Atingidos pela Copa. Nos Grêmios vivenciei situações onde a luta dos estudantes era suplantada por lutas partidárias ou ideológicas. Acho que por isso fiquei tão arredio.

No COPAC e no Fora Lacerda experimento formas de participação diferentes, sem a formalidade das instituições tradicionais, com a liberdade de ação e fala aberta. São instituições horizontais, transparentes, sem lideres, sem hierarquia e abertas a todos os cidadãos que desejam participar e entrar nas lutas. Aproveito e faço o convite a quem desejar conhecer e participar dos movimentos. Seja um voluntário da Copa, ajude o COPAC a acompanhar e denunciar os abusos para a realização dos jogos. Seja um voluntário da sua cidade, ajude o Fora Lacerda a fiscalizar a administração municipal e denunciar seus abusos.

Nesse emaranhado de lutas conheci militantes de diversos partidos, principalmente: PSOL, PSTU, PCB, PCR e PT. Cidadãos engajados e obstinados em construir uma outra sociedade, cidadãos que se doam para o coletivo, mesmo sem serem reconhecidos assim. Cidadãos que defende suas bandeiras com consciência e abnegação. Cidadãos que aprendi a admirar e respeitar, mesmo tendo percepções diferentes.

E no meio desse emaranhado fiz amizades, muitas, diversas. Encontrei pares de pensamento e ação, acabei por me envolver com eles além das ideias. Acredito sobre tudo nas relações movidas pelo afeto. Relações que transcendem entendimentos racionais e se fortalecem na abstração das lutas por um mundo melhor.

Neste tempo comecei a pensar em me filiar ao PSOL, um partido que já me identificava e que passei a me identificar com seus membros. Afeiçoei-me primeiro as ideias e depois as pessoas. E foi isso que me fez filiar, o gosto, mais do que o ideal. Porque eu luto com prazer e satisfação, com alegria e empolgação. É que faço movido pelo coração, é ele quem procura na razão os melhores caminhos.

No entanto, planejava me filiar daqui há alguns meses, queria conhecer melhor o partido antes. Mas algumas coisas me fizeram mudar de opinião. Primeiro foi uma revoada de tucanos disfarçados de periquitos que rondaram o partido na época de encerramento das filiações em tempo hábil para a eleição de 2012. Depois de espantada a revoada de aves estranhas ao ninho fui entendendo o que se passava. No segundo turno das eleições de 2012 vieram as polêmicas com os candidatos do PSOL que estariam recebendo dinheiro de empresas ou apoio de políticos, já reconhecidos pelos seus desacertos.

Estes dois fatos, principalmente o último, foram comentados em diversos meios e principalmente por outros partidos de esquerda, que viam o PSOL caindo para o lado onde o PT se perdeu, alianças e financiamentos. E foi nessa que pensei: meus amigos precisam da minha ajuda. Se o PSOL está em risco, se aves de rapina querem ocupar este ninho é hora de dar mais força, é hora de fortificar a luta e mostrar a nossa postura.

E é por isso meus amigos, que estou aqui, para travar as lutas mais difíceis que possam surgir e poder manter no rumo as ideias e posturas que compartilhamos. Que o sol brilhe para todos!
"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres."
Ah e quero estudar mais Rosa de Luxemburgo. Obrigado!

*Quando escrevi este texto para me apresentar ao PSOL, no início de dezembro, pesquisei sobre esta citação. Várias fontes na internet citam o Groucho, mas a frase não é dele é do Freud e quem afirma isso é o Woody Hallen, neste vídeo que o Pedro Raidan me passou: https://www.youtube.com/watch?v=-t4m_yzdMzU
Fiquei muito feliz com este acontecimento, demonstrou como a nossa união pode ser mais certeira que uma ação solitária. Obrigado.